O bezerro de ouro e a vaca estatal

Autor: STIEESP

4 de abril de 2022

Êxodo 32

A passagem bíblica Êxodo 32 relata que Moisés subiu ao monte e demorava a descer e levar boas novas para o seu povo, que, em função do tempo e do aumento da sua impaciência, juntou-se ao redor de Arão e lhe pediram: ”Venha e faça para nós deuses que nos conduzam”.

Arão pede que todos os brincos de ouro sejam trazidos para ele, e, após recebê-los, derreteu-os e os fundou na forma de um bezerro de ouro. No dia seguinte, em honra ao seu novo deus, o povo fez uma festa, na qual ofereceram holocaustos (palavra de origem greco-latina cujo significado bíblico é “totalmente queimado”) e sacrifícios de comunhão.

Naquele momento, o Senhor disse a Moisés: “desça, porque o seu povo, que você tirou do Egito, corrompeu-se”.

MEC – Ministério do Enriquecimento Cristão?

Até quando a sociedade vai se calar, diante da interferência religiosa na política, com o único propósito de usar a palavra divina em nome de sentimentos e comportamentos pecaminosos, que manipulam a fé de muitos e engordam as contas bancárias de poucos?

Não se trata de criticar nenhuma religião – até porque, numa sociedade democrática, existe espaço para todas elas, inclusive para os ateus, afinal todos somos seres humanos e o livre arbítrio também seria uma criação divina. Condenável é o uso oportunista da “palavra do Senhor” para amealhar propinas celestiais, em troca de escolas, creches e dízimos, em troca de curas e prosperidade. Milagres não são comprados.

É estarrecedora a promíscua relação entre alguns pastores, que, como mercadores da fé, dispõem-se a abrir as portas do céu e dos cofres do Ministério da Educação e Cultura para abençoar amigos e apoiadores de uma proposta que aprisiona a educação, utilizando correntes forjadas com o fundamentalismo e com alguns segmentos neopentecostais. No entanto, não podemos esquecer de outras igrejas, que também fizeram e ainda fazem mau uso da palavra.

O caminho da fé cristã deve ser trilhado com o objetivo de plantar o bem comum e o amor ao próximo, para que se receba a graça da vida eterna – jamais, para apadrinhar obras e projetos de amigos e apoiadores de pastores do dinheiro do povo.

O Ministério da Educação e Cultura possui um dos maiores orçamentos da União e também tem processos internos que dificultam muito o desvio dos recursos destinados às suas pastas, mas ainda existem algumas brechas. 

A fé opera milagres e transferências voluntárias

A população precisa ter claro que a União não possui uma rede de Educação Básica. Essa estrutura e sua operação são de responsabilidade dos estados e dos municípios, entretanto o MEC (Ministério da Educação e Cultura) destina uma parcela de recursos que beiram a casa dos três bilhões de reais para a construção de creches, escolas, inclusão de alunos e formação de professores, suplementando, assim, os orçamentos estaduais e municipais.

Pelo fato de que esses recursos públicos não são suficientes para atender a todas as demandas, entra em cena o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), uma autarquia ligada ao MEC, responsável pela execução dos recursos repassados pelo Governo Federal para os estados e municípios. A solicitação de liberação de recursos é feita através da apresentação de projetos, junto ao MEC.

A limitação faz com que os recursos somente sejam liberados após a aprovação de projetos pelo FNDE: aí, entra em cena o milagre da aprovação seletiva. Ocorre uma verdadeira procissão de interessados em terem seus projetos aprovados, o que leva a inúmeras negociações políticas. Ocorre que, milagrosamente, os projetos de amigos de dois pastores, denunciados por alguns prefeitos, seriam aprovados, sem que fosse considerado o mérito deles.

Os amigos desses santos atravessadores de dinheiro público, segundo áudios vazados e depoimentos de alguns prefeitos, seriam abençoados, desde que ofertassem algo material em troca: dinheiro vivo, para acelerar o processo de avaliação do projeto, e um quilo de ouro após a sua aprovação. Dependendo da fé e do apoio político, até descontos poderiam ser concedidos. Aleluia!

O Brasil é um país laico, e, portanto, não é boa prática que algumas igrejas sentem-se ao lado do erroneamente endeusado mito e usem, indevidamente, a “palavra do Senhor”, para distribuir graças, angariar fiéis e acumular dinheiro.

Há que se perguntar aos responsáveis pelo MEC, e ao próprio capitão presidente, que tanto ruge que é o dono da caneta, onde fica o princípio da impessoalidade na administração pública, a partir do momento em que se privilegiam os amigos? Como fica a alardeada moralidade desse governo, quando afirma que desconhece o pedido de propinas? O que falar da necessária publicidade dos órgãos públicos, quando denúncias e vazamentos de áudios enterram a transparência? E, por fim, são necessários detalhados esclarecimentos sobre a eficiência no uso dos recursos públicos.

É inaceitável que voltemos aos tempos dos conchavos entre reis e religiosos, muito comuns na Idade Média. É inaceitável que extremistas religiosos usem o Estado como trampolim, para a dominação ou a eliminação de outras crenças.

Nem a Constituição Federal, e muito menos a Bíblia, podem ter seus conteúdos distorcidos e interpretados, a fim de favorecer egos materialistas e sedentos de um poder que é exclusivo de DEUS.

Não aos bezerros de ouro alimentados pela vaca estatal, chamada MEC.

 

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