O desemprego, a inflação e o Banco Central

Autor: STIEESP

19 de maio de 2023

É de conhecimento público que inúmeros organismos multilaterais, que, em sua maioria são sustentados por aportes financeiros das economias mais ricas do planeta, atuam privilegiando os interesses destas economias. O Fundo Monetário Internacional (FMI) é o maior exemplo da pressão econômica exercida sobre os governos dos países em vias de desenvolvimento ou endividados.

Via de regra, o receituário neoliberal adotado e defendido pelo FMI sempre definia o controle da inflação como uma das prioridades — sendo que isso deveria ser feito através do controle dos salários (leia-se: do congelamento ou do reajuste abaixo da inflação acumulada, da redução dos gastos públicos, e, especialmente os gastos sociais que transferem renda).

A justificativa é sempre a mesma: se as pessoas tiverem seu poder de compra aumentado, ocorrerá o que os economistas chamam inflação de demanda, cuja lógica é simples: se todas as pessoas comprarem uma TV, por exemplo, a tendência é que os preços da TV subam, pois não existe estoque suficiente para atender à demanda.

Desde as fortes ondas inflacionárias ocorridas na década de 1970, a maioria dos políticos e dos economistas ortodoxos (conservadores) acreditava e atuava para que a riqueza produzida ficasse nas mãos de uma minoria (a elite econômica), que teria condições de poupar e investir na indústria nacional, já que os pobres não têm capacidade de acumular riquezas, pois mal ganham para comer.

Passaram-se décadas e o Brasil pagou a dívida com o FMI. O país abriu sua economia, entregando parte do patrimônio nacional através de privatizações nefastas para a economia e para a soberania nacional, sem falar nas facilidades legais e nos financiamentos públicos, no mínimo desnecessários e direcionados para grupos econômicos influentes, tudo justificado pela modernidade da globalização.

Durante todo esse período, não faltou pressão para segurar o valor do salário mínimo, não corrigir a tabela do Imposto de Renda e ainda aumentar a terceirização da mão de obra, o que eleva a precarização do trabalho, corrói os salários e também reduz os benefícios da classe trabalhadora.

Em nome da recuperação econômica, o Brasil pouco gera emprego de qualidade em números suficientes. Os jovens não conseguem ingressar no mercado, o trabalhador com mais de 40 anos tem dificuldade para se recolocar, e aquela elite — que, de vez em quando, investia na indústria nacional — prefere especular em aplicações nas instituições financeiras. Será que é por isso que os clientes milionários são tratados de forma especial pelos bancos, com isenções de taxas e atenção especial, em protocolos que jamais serão estendidos aos mortais que ainda possuem contas bancárias simples? É o pobre pagando tarifas, para que o rico fique isento.

Por que o Banco Central, instituição responsável pela execução das políticas fiscais, tributárias e econômicas, além de fomentar a valorização da indústria nacional, mantém a maior taxa de juros do mundo e manifesta receio de que a queda do nível do desemprego provoque mais inflação, defendendo o corte de gastos por parte do governo?

O presidente do Banco Central deveria ser honesto com a população brasileira e apontar os reais motivos para que a taxa SELIC continue no irresponsável patamar de 13,75%. Qual empresário (principalmente o médio e o pequeno), arriscaria a tomar empréstimo junto a um banco com essa taxa de juros? Sabemos que o comércio e as pequenas e médias indústrias geram mais de 60% dos empregos no Brasil, mas por que sobra dinheiro para financiar grandes projetos multinacionais, que, geralmente, não criam muitos empregos, e ainda falta dinheiro para o empresário nacional?

O presidente do Banco Central, que era do Banco Santander, não fala que o maior gasto público do governo é com os juros da dívida, que são pagos aos grandes bancos credores. Trocando em miúdos: quem mais lucra com a injustificável taxa de juros são os grandes bancos.

O senador Cid Gomes mostrou, de forma bem didática, com giz e lousa, para o presidente do Banco Central, que, em 2022, a economia dos EUA apresentou uma inflação de 6,5%, mas manteve a taxa de juros em 4,5%, o que possibilitou manter a taxa de desemprego em torno dos 3,5%. Nesse mesmo período, a inflação brasileira chegou aos 5,8%, enquanto a taxa de juros alcançou os 13,75%, o que contribuiu, diretamente, para uma taxa de desemprego de 9,3%. Cabe lembrar que o presidente do Banco Central foi nomeado pelo presidente que bateu continência para a bandeira estadunidense, mas jurava amar o Brasil.

A imprensa nacional, com raras exceções, tem culpa pela desinformação da população brasileira e pela atuação predatória do referido presidente do Banco Central. Por que as cobranças são feitas de forma superficial e esporádica quando se trata de redução da taxa de juros e fomento da reindustrialização do país via políticas e gastos públicos bem calibrados?

Comparem as manchetes dos jornais e dos noticiários na TV sobre os gastos com Bolsa Família, com o SUS, com a Saúde e com a Educação e as manchetes sobre quem são os maiores sonegadores e devedores do país. As empresas quebram, os donos ficam milionários, os acionistas recebem seus dividendos e o trabalhador fica desempregado.

O Brasil precisa de uma coesão social e de uma articulação de diversas políticas públicas para retomar o caminho do desenvolvimento com sustentabilidade. Isso implica que o Banco Central deve estar a serviço do país e do povo, e não servir como ferramenta de distribuição do dinheiro público para os amigos.

Não à toa, o senador Cid Gomes, ao final da sua intervenção, entregou um boné da instituição financeira para o qual o presidente do Banco Central trabalhava e pediu para ele desocupar o cargo no BC.

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