Quando o ego atrapalha

Autor: STIEESP

1 de novembro de 2022

Mais uma vez, a centro-esquerda brasileira não foi capaz de se articular com o
tempo e com a intensidade necessária para a elaboração e a divulgação de
propostas capazes de sensibilizar e conquistar o sentimento de pertença da
imensa maioria da população brasileira. Faltou 1,57% dos votos para que a
eleição presidencial não dependesse do segundo turno.

Não se trata de criticar as forças progressistas do país. A questão está na
vontade política, e não capacidade da oposição de deixar o ego de lado e
apoiar as melhores ideias e propostas, é claro, participando da elaboração
delas. Nem sempre as lideranças se dão ao trabalho da autocrítica. Quando se
trata de poder, existe um comportamento, que é quase padrão, que leva as
lideranças a preferirem ser a cabeça da sardinha do que o do rabo de tubarão.

Não há que se apontarem dedos, nem justificar e encobrir falhas. É preciso o
desprendimento das benesses do poder, principalmente, no campo da
satisfação das necessidades individuais de realização e de comando, que, no
fim das contas, dificultam a realização das ideias e das propostas que essas
lideranças acreditam e pregam.

Para qualquer ser humano, é difícil definir uma posição política, e, ainda mais
difícil, é ter que abrir mão dela ou reconsiderá-la: a maioria dos indivíduos nem
sempre consegue diferenciar o bom senso do senso comum, o que contribui,
diretamente, para que não percebamos a realidade que nos cerca.

Em 2013, a sociedade estava inquieta e insatisfeita com a forma como estava
sendo conduzida a política nacional, com inúmeras frustrações – notadamente,
aquelas oriundas da falta de perspectiva de realizações financeiras que um
bom emprego e uma renda minimamente digna podem e devem proporcionar.
O povo foi às ruas e os políticos não pararam para rever suas práticas.

Os individualismos pregados e maquiavelicamente introduzidos nas mentes
das pessoas, pelos adoradores do neoliberalismo, através da valorização
manipuladora das liberdades individuais, cresceram. Assim, as eleições de
2018 foram decididas a favor de quem melhor explorou esses sentimentos.

Significativa parcela da sociedade chegou ao ponto de aceitar e confundir
liberdade de expressão com liberdade de agressão, levando ao desrespeito de
valores básicos de uma democracia. O debate de ideias e de propostas perdeu
lugar na política para as agressões e mentiras; a opinião e a inteligência do
povo foram ainda mais desmerecidas pela disputa de egos; pequenos grupos
de interesse conseguiram reduzir, a quase zero, os sentimentos de
solidariedade e de responsabilidade coletiva do brasileiro.

Para o bem ou para o mal, a sociedade é bombardeada a todo instante, com
informações nem sempre úteis e nem sempre verdadeiras. A despolitização do
nosso povo é um campo fértil para que as limitações, os erros e as falcatruas
políticas passem desapercebidas, ou mesmo, que sejam toleradas pelos
indivíduos, tudo em nome da identificação e da indignação de cada um, seja
para com a proposta política A ou B.

Os vencedores de uma disputa política deveriam ter o comportamento
republicano e o compromisso com o bem-estar coletivo e com o futuro do
Brasil, impedindo que o seu ego triunfante travasse o diálogo com os vencidos
e a incorporação de suas boas propostas. Já os vencidos deveriam deixar de
lado o seu ego ressentido, buscando formas mais republicanas de participar da
necessária reconstrução de uma coesão nacional, que possibilite a
reconstrução da democracia, da economia, e, principalmente, da dignidade
brasileira.

Creio que já há algum tempo que, tanto os vencedores, como os vencidos nas
eleições, perderam sua capacidade de se conectar de forma mais direta com o
povo e entender a realidade social do Brasil. A prevalência do ego aos
interesses coletivos, mina qualquer possibilidade de governar para todos ou de
conscientizar o povo na defesa dos seus interesses e direitos. Na disputa
desqualificada entre os egos da esquerda e da direita, o maior perdedor é o
povo.

Espero que, neste segundo turno, os candidatos falem de propostas e
alternativas para melhorar a vida das pessoas, em vez de se esconderem atrás
de ataques desnecessários e mentiras.

Debate político não é luta de MMA, nem concurso de piadas e de mentiras.
Menos ego e mais compromisso.

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