O Brasil já foi mais alegre, mais criativo e mais esperançoso. Por onde será que anda aquele brasileiro, que faz piada da própria sorte? Por onde será que anda aquele brasileiro, capaz de solucionar os mais diversos problemas? Por onde será que anda o brasileiro cheio de sonhos e energia para realizá-los?
Tentando sobreviver. Esta é a resposta mais adequada nestes tempos sombrios. Diariamente, o brasileiro contabiliza milhares de vidas perdidas, de forma estúpida, insensível e autoritária; ele acorda com a barriga mais vazia do que ontem, não consegue nem um miserável bico e se vê encurralado pela ausência de perspectiva de uma vida melhor. A tristeza é potencializada pela insegurança – seja ela emocional, física ou econômica. Até quando esse pesadelo vai nos atormentar?
Em que pese toda uma cultura elitista e rentista, instalada há mais de um século, que insiste em condenar o povo aos porões da desigualdade e do preconceito, o Brasil já viveu dias bem melhores. Em que pese o indevido uso da Democracia por uma significativa parcela de brasileiros, o povo já teve mais voz. Em que pesem os “avanços” do agronegócio, nunca os pratos de comida estiveram tão vazios. Em que pese dizer que os avanços socialistas não foram suficientes no combate às desigualdades, é certo afirmar que o capitalismo selvagem agoniza. Até quando vamos aceitar ficar fora do processo de tomada de decisões políticas?
É mais do que oportuno recordar o vaticínio de Rosa Luxemburgo, diante da Primeira Guerra Mundial, sobre o destino da sociedade. “Ou entra em transição ao socialismo, ou regride para a barbárie”. Vale dizer que a ideia de socialismo é de alternativa de organização social baseada na justiça, na diversidade e na igualdade de oportunidades, para reduzir os efeitos nocivos da ganância e da acumulação capitalista.
O caso específico do Brasil, passados mais de 28 meses do início (?) do atual desgoverno, é a prova cabal de que interesses mesquinhos, aliados ao despreparo administrativo, ao desprezo pela vida, à limitação intelectual e ao autoritarismo, aceleram a derrocada da proposta neoliberal radical. O país está sem rumo, empilha cadáveres e convive com a bipolaridade planejada de um presidente zumbi.
Zumbi no sentido de um corpo sem alma, que se alimenta da discórdia, do ódio e das polêmicas, que funcionam como uma cortina de fumaça que encobre delitos oficiais e embaça a visão de muitos brasileiros. Desviar a atenção e terceirizar a culpa é a estratégia de uma criatura que não pestaneja em entregar amigos e apoiadores para salvar seu pescoço e preservar sua usurpadora prole.
Em meio a tantos problemas, o presidente zumbi, seguindo a cartilha fascista de apagar a história com narrativas fantasiosas, insiste em vender a imagem de que o futuro do Brasil está no seu passado. Nega a ditadura, se diz democrático e ressuscita a Lei de Segurança Nacional. Confunde soberania nacional com isolamento em um mundo globalizado e interdependente. Aposta na doação do patrimônio nacional ao mercado, enquanto estudos da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontam que o Brasil é a única grande economia em desaceleração em 2021. Amplia o espaço político de alguns “líderes religiosos”, que não diferenciam os objetivos da fé e os objetivos financeiros, se diz temente a Deus e prega a intolerância.
Distorce a Constituição Federal, usando a defesa da liberdade de expressão para atacar e ameaçar seus adversários políticos. Falava em nova política, reviveu o “toma lá, dá cá” e se rendeu aos caros votos do centrão. Usa máscara, eventualmente, para dizer que combate a pandemia, mas valoriza sua condição de ex-atleta, enquanto chama o povo de “maricas” para atacar o distanciamento social.
Qual o futuro que o presidente zumbi quer para o Brasil? Novamente, ele vai se colocar como alternativa presidencial? Até quando ele vai acreditar em suas narrativas fantasiosas e em suas bravatas golpistas? Até quando ele vai distribuir cargos para tentar cooptar a consciência dos militares? Até quando ele vai ignorar os milhares de mortos pela COVID-19 e pela omissão do seu desgoverno?
O futuro do país não está no passado do regime militar, nem nas ameaças de golpe, tampouco no autoritarismo. O futuro do país está no diálogo e na justiça social, na reforma política, na reforma tributária, na reforma administrativa, na aplicação da lei para todos e no fim da impunidade. É preciso conhecer o passado, para melhorar o presente e planejar o futuro.
O futuro depende da nossa disposição de fortalecer a Democracia e ocupar espaços políticos, de forma articulada e comprometida com os interesses coletivos.