Traços fascistas do governo Bolsonaro

Por diversas vezes, são tecidas críticas e são realizadas análises por diferentes atores sociais, sobre qual o perfil ideológico do governo Bolsonaro. Quase sempre, surge a classificação de que estamos sob o comando de um governo fascista, ou muito próximo disso.

É certo que o Brasil não é o único país refém de uma proposta política oriunda de conservadores de extrema direita: isso pode nos dar uma pista do discurso que grupos e partidos radicais de direita têm encontrado guarida em alguns segmentos sociais, que, nem sempre conseguem precisar se o alvo de suas críticas é o sistema capitalista ou a Democracia.

Jamais podemos esquecer que, somente a Democracia, com suas limitações e necessidades de aprimoramento, permite que opiniões divergentes possam ser elaboradas e expressadas. Inclusive, a liberdade defendida pela democracia permite que ela seja criticada, para o bem ou para o mal.

O ressentimento com o sistema

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo, quase que em sua totalidade, experimentou décadas de forte desenvolvimento e grandes avanços sociais. Estava em andamento, principalmente na Europa, um plano para reconstrução dos países destroçados pelo conflito militar em escala global.

As indústrias funcionavam a pleno vapor, e as pessoas, além de voltarem ao mercado formal de trabalho, tiveram acesso a bens materiais. Suas rendas permitiam uma melhor alimentação, comprar uma casa, educar os filhos, e, ainda por cima, tinha a proteção do Estado de Bem Estar Social.

A pobreza não foi eliminada, mas quase todos estavam usufruindo dos benefícios do sistema capitalista – o que, de certo modo, distanciou as pessoas da participação política, abrindo espaço para que políticos profissionais se perpetuassem no poder, dependendo do povo e se lembrando dele somente na ocasião das eleições.

Com a globalização, o sistema capitalista tornou-se ainda mais competitivo, dificultando a vida das empresas de menor porte, o que levou muitos países a abrirem suas economias para o capital estrangeiro. Assim, as fusões, as incorporações e as privatizações eliminaram milhões de empregos e beneficiaram aqueles que já tinham mais dinheiro e poder. Além disso, os governos tiveram suas capacidades de intervenção na economia e de promover uma assistência social digna. A maioria dos governos e dos políticos rendeu-se aos encantos monetários do neoliberalismo.

Com todo esse redirecionamento, o sistema capitalista deixou os ricos ainda mais ricos, os pobres ainda mais pobres, e a classe média se viu impedida de ascender na pirâmide social e acumular riquezas: pelo contrário, passou a pagar mais impostos, perder renda e viu que estavam mais próximos dos pobres, do que dos ricos. Isto passou a incomodar e muito.

Esta decepção despertou, em milhões de pessoas, um grande ressentimento em relação ao sistema, que os impedia de enriquecer, e, ainda em função da adoção de programas sociais de transferência de renda, sentiram-se preteridos em relação aos mais pobres.

Estavam lançadas as condições básicas para que aqueles políticos críticos do sistema ganhassem espaço e apoio destes milhões de ressentidos e frustrados, sentimentos estes, que foram trabalhados, no sentido de atacar os governos e partidos progressistas, as políticas de inclusão social, as proteções sociais e trabalhistas e as instituições democráticas. Era a oportunidade que o conservadorismo autoritário precisava para angariar apoio popular.

O retrocesso brasileiro

Já há algumas décadas, o Brasil não sabe o que é ter um plano consistente de desenvolvimento. Desde a saída de cena do getulismo, os diversos governos, passando por militares, centro e de esquerda, jamais deram a devida atenção a um planejamento econômico perfeito. Ainda hoje, o Brasil é dependente da exportação de matérias primas e commodities.

Sem capacidade de investimento próprio, a economia nacional sempre depende de investimentos estrangeiros, o que é perigoso em um mundo globalizado, em que os grandes investidores migram rapidamente para os países que ofereçam as melhores condições.

Um dos motivos desta postura segmentada dos ministérios, levando a uma quase total ausência de complementariedade em projetos e políticas públicas, é o presidencialismo de coalisão. Para ter um mínimo de governabilidade, o presidente tem que distribuir ministérios, cargos e verbas para diferentes partidos, o que leva à perda da governança.

Além disso, o país tem negligenciado o investimento em educação e tecnologia, diminuindo, sensivelmente, a capacidade competitiva da indústria nacional e dos nossos produtos. A infraestrutura nacional deixa a desejar, a mão de obra — com raríssimas exceções — é de baixa qualidade, por culpa da ausência de planejamento estatal.

Some-se a esses motivos o atrelamento da economia nacional ao dólar, o descontrole do gasto público, a sangria provocada pela corrupção, o alto número de desempregados e as reformas, como por exemplo, da previdência e a reforma trabalhista, que somente retiraram direitos e não impactaram, de forma positiva, na economia nacional.

Nos dias de hoje, está muito claro que o governo Bolsonaro não reúne condições técnicas para conduzir o país a um porto seguro, além de criar uma desnecessária turbulência política ao atacar instituições, pessoas, países, partidos políticos, imprensa e a classe trabalhadora. Esta instabilidade política, somada à incompetência administrativa, afasta, cada vez mais, possíveis investidores.

Fascistas?

Basta uma breve leitura sobre os motivos do crescimento do nazismo na Alemanha e do fascismo na Itália, para encontrarmos diversas coincidências com o momento histórico vivido pelo Brasil.

Os alemães estavam extremamente decepcionados com as sanções impostas pelos países vencedores da Primeira Guerra Mundial contra a Alemanha. A miséria e a economia arrasada foram o combustível para a ascensão de Adolf Hitler, que prometia reverter esta situação. 

Na Itália, a até então classe dominante, estava extremamente descontente com a atuação dos socialistas, o que inspirou sentimentos de ódio e ações violentas contra as lideranças progressistas. Os camisas pretas, espécie de milícia de Mussolini, empregavam absurda violência contra aqueles que pensavam diferente e tudo era uma questão de se chegar ao poder.

No Brasil de hoje, a intolerância é uma triste realidade construída a partir de discursos e atos autoritários, contrários ao sistema e à Democracia, promovidos pelo governo federal. A seguir, elencamos algumas características do fascismo, que, infelizmente, também estão presentes na política nacional:

  • Implantação de um governo ditador e autoritário. São inúmeras as tentativas do governo Bolsonaro em colocar o poder nas mãos do presidente.
  • Fim das estruturas democráticas. Desde o início do atual governo, foram dissolvidos espaços de participação social. Foram atacadas as ONGs, o STF, o TSE e inúmeros órgãos de fiscalização foram desmontados.
  •  Controle dos sindicatos. Uma das primeiras medidas do atual governo foi sufocar financeiramente os sindicatos, acabar com direitos trabalhistas e dificultar o acesso dos trabalhadores à Justiça do Trabalho.
  • Imprensa sob censura. Os ataques à imprensa livre ocorrem desde a campanha eleitoral, assim como o favorecimento de veículos de comunicação simpáticos e apoiadores do atual governo.
  • Controle dos conteúdos escolares. Escola sem partido, ataques à autonomia das universidades e adoção de dogmas cristãos como parâmetro para uma nova educação, são bandeiras fielmente defendidas pelos conservadores e evangélicos.
  • Perseguição dos opositores políticos. Muitos são os casos de intimidação judicial e/ou via propagação de notícias falsas e mentiras, sobre aqueles que não comungam com os arroubos do capitão presidente.
  • Exacerbação da religião e do nacionalismo. Em seus discursos, o presidente quase sempre cita o nacionalismo como se ele fosse o único capaz de salvar o Brasil; outro pilar da propaganda bolsonarista é a defesa dos evangélicos, como forma de promover os valores conservadores.

Em suma, é possível afirmar que existem claros traços do fascismo no atual governo.

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