Trabalhismo e o modelo de desenvolvimento

Mais uma vez, o Brasil passa por uma crise política e econômica. Infelizmente, a política brasileira não tem cumprido o papel de representar, com dignidade e responsabilidade, o povo brasileiro.

A crise econômica também reflete as decisões políticas, que, quase nunca, beneficiam com a devida justiça esse mesmo povo e ainda escancaram as limitações do capitalismo selvagem.

Alguns dos aspectos mais negativos destas crises, além de mais de meio milhão de mortes, que, em grande parte poderiam ter sido evitadas, são: o desemprego, a perda do poder de compra dos que ainda trabalham e a precarização do trabalho –  elementos que levam ao aumento da desigualdade social.

Neste contexto, mais uma vez, a luta da classe trabalhadora passa por um momento de resiliência, buscando reduzir a perda de direitos e conquistas, após algumas décadas de avanços significativos.

As lideranças sindicais precisam, urgentemente, deixar picuinhas e o ego de lado, para reestruturar a ação sindical, que foi fortemente atacada pelo atual governo autoritário.

O Capitalismo e o mundo do trabalho 

O evento mais importante para a consolidação do processo de formatação do capitalismo, foi a passagem de uma economia basicamente agrária de subsistência para uma economia que passou a valorizar o comércio de bens, como forma de obter lucros.

Este fato ocorreu no período da Baixa Idade Média, entre os séculos XI e XV, quando as propriedades feudais começaram a ser arrendadas e os trabalhadores do campo passaram a receber algum salário.

A partir do aumento da circulação de bens, o comércio ganhou relevância estratégica para obtenção do lucro e poder. Estava inaugurada a era das navegações e descobertas, quando as mercadorias deixaram de ter valor de uso para ter valor de troca.

Ao longo dos séculos, o capitalismo continua a buscar o lucro a qualquer custo, adotando novas estratégias, lançando modismos, desenvolvendo tecnologias, ao passo que continua a não reconhecer o devido valor do trabalho.

Origens do Trabalhismo

A primeira Revolução Industrial ocorreu em solo inglês, na segunda metade do século XVIII, em função do início da utilização da força motriz no lugar da força física. Uma das maiores causas desta substituição foi a utilização do vapor como força motriz.

O uso de máquinas no lugar do trabalhador, como por exemplo, os teares mecânicos, provocou imensa revolta daqueles que foram prejudicados: quem não foi substituído por uma máquina, trabalhava até 16 horas por dia; os salários despencaram e ainda eram imensos os riscos de acidentes; em resposta a este contexto de exploração, começam a surgir os sindicatos.

A força da classe operária rapidamente chegou ao “mundo da política”. Na mesma Inglaterra, foi criado o Partido Trabalhista, que comungava as ideias defendidas pelos líderes do movimento sindical da época: assim nascia o Trabalhismo.

Rapidamente, este movimento criou as bases da doutrina política que defende a melhoria das condições sociais e econômicas dos trabalhadores. O Trabalhismo é uma corrente de pensamento, que se coloca politicamente à esquerda, próxima do socialismo, mas que não pretende substituir a sociedade capitalista por uma sociedade socialista.

A defesa de melhores condições de vida dos trabalhadores, do pagamento de salários dignos e da proteção do Estado ganhou muitos adeptos, mas, ao longo do tempo, apesar de muitas conquistas, não conseguiu que o valor do trabalho fosse devidamente reconhecido. 

O Trabalhismo cresceu em escala mundial, desencadeando fortes reações por parte da elite capitalista. Ele também foi duramente criticado por segmentos sociais que defendiam e ainda defendem a queda do capitalismo como a única forma de se construir uma sociedade mais igualitária.

Podemos afirmar que, dentro da sociedade capitalista, existe uma constante luta de classes, opondo os que buscam a justiça social e os que não abrem mão do lucro a qualquer preço. Os trabalhadores são uma força nesta disputa ideológica e política, mas, infelizmente, ainda não se deram conta do poder da unidade de ação na defesa de seus interesses.

Um modelo econômico explorador

“A industrialização é sinal de desenvolvimento, porque indica que a comunidade nacional se aparelhou para fabricar por si e para si os bens de que necessita. Quando os mandava vir de fora, muitas vezes produzidos om substancias que exportava, era subdesenvolvida porque dependia da indústria alheia para realizar as operações mais complexas, nobres e difíceis da fabricação dos artefatos”.

“Entretanto, é imprescindível deixar claro que a industrialização só indica real ascensão histórica da comunidade quando os atos criadores dos bens não apenas se realizam dentro dela, pelo seu trabalho autentico, mas são feitos por ela em seu imediato proveito.

A nação precisa ter o completo comando do seu aparelho econômico, para conduzir a sua industrialização em condições que excluam a espoliação por parte de outra”.                                                                                                  Álvaro Vieira Pinto

A partir da ideia de que o Trabalhismo não tem por objetivo central a mudança de uma sociedade capitalista para uma sociedade socialista, mas sim, melhorar as condições de vida do trabalhador, o modelo de desenvolvimento econômico adotado ganha vital importância para seus propósitos.

Um recente estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) sobre o comportamento das famílias após a vacinação em massa e o maior controle da pandemia, demonstrou, mais uma vez, a desigualdade brasileira. Enquanto 70% das famílias com renda superior a R$9.600,01 pretendem retomar as viagens, idas a restaurantes e vida social, 47,4% das famílias com renda até R$4.800,00 pretendem comprar alimentos.

Por que será que uma das maiores economias do mundo apresenta tamanha disparidade?

Uns querendo matar a fome, outros escolhendo lugares para passear? Isso sem falar dos desempregados. 

A resposta está na lógica capitalista, que determina que o modelo de desenvolvimento econômico deve privilegiar os interesses da elite capitalista.

O mundo do trabalho está em constante mudança – seja por novas tecnologias, seja por novas formas de gestão, pelas empresas transnacionais, pela competitividade etc. Em paralelo, esta lógica capitalista atua para diminuir a interferência do Estado na economia, através da flexibilização de leis que protegem os trabalhadores, pois benefícios e direitos são encarados como custos.

Uma das formas de resgatar o protagonismo das ideias do Trabalhismo é a ocupação do espaço político por candidatos efetivamente comprometidos com o bem-estar da classe trabalhadora. A população precisa se conscientizar que a ideia de que “política não é lugar de gente boa e honesta” só interessa aos maus políticos, cooptados pelo capital. Quanto menos gente honesta tiver na política, mais a corrupção se fortalece.

O Brasil não pode continuar refém da industrialização definida por outros países que manipulam a economia internacional: a indústria nacional tem de ser resgatada e apoiada. Cada empresa estrangeira que entra no Brasil e ignora a soberania nacional, acaba favorecendo a saída de empregos e a desvalorização da nossa mão de obra. O capital estrangeiro pode entrar no Brasil, mas as regras são nossas e devem atender aos interesses do nosso povo.

A análise de Álvaro Vieira Pinto, membro do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e um dos intelectuais que elaboraram o conceito de nacional-desenvolvimentismo, continua atual, apesar de ser feita na segunda metade da década de 1950.

Independentemente da sociedade ser capitalista ou socialista, o trabalho continuará como essência das relações sociais e produtivas. Portanto, ainda há muito a mudar no modelo de desenvolvimento – ou mesmo, mudar o próprio modelo.

Fortalecer a luta operária na defesa dos interesses dos trabalhadores é a essência do Trabalhismo.

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