Diz um provérbio popular que “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”. A recriação do Ministério do Trabalho e da Previdência Social deve ser vista como muita cautela, pois, citando outro dito popular, “gato escaldado tem medo de água fria”.
A sociedade brasileira – e principalmente a classe trabalhadora – não pode se deixar enganar por essa iniciativa, que pode ser mais uma jogada publicitária de um governo desgastado e incompetente, e que, na verdade, delega ao chamado “centrão” a responsabilidade de políticas públicas relativas à geração de emprego e à Previdência Social, em troca de apoio político para conclusão do mandato (e, pior, talvez para a reeleição).
As feridas do descaso com a classe trabalhadora e com a aposentadoria de milhões de brasileiros ainda estão abertas, por uma tentativa do governo federal, através do “Posto Ipiranga”, de implantar o anarcocapitalismo no Brasil – ou seja, acabar com as regras, com as leis e com a República.
O que é anarcocapitalismo?
Esta ideologia é contrária a qualquer tipo de controle ou interferência do Estado na sociedade. Para o anarcocapitalismo, a atuação estatal é uma forma de controle do comportamento social, usando a força como estratégia para controlar este comportamento, sendo, portanto, contraditório à existência de direitos pessoais e liberdades individuais.
Esta ideologia vem muito a calhar com o estelionato eleitoral da chapa do capitão presidente, que pregava a ruptura com a velha política, o não funcionamento de instituições republicanas e o enfraquecimento dos partidos políticos, espaços de participação social, Supremos Tribunais, sindicatos, universidades etc.
Basicamente, o anarcocapitalismo entende que a melhor forma de alavancar a economia é entregar toda ela à iniciativa privada, além de instituir o livre comércio (em que cada um vende o que quiser, para quem quiser, e ao preço que lhe convém). Para isso, é preciso acabar com regras, leis, acordos etc.
Para o atual governo, a República, com seus aspectos positivos e suas limitações, é um grande obstáculo, porque estabelece regras e limites para a sociedade como um todo, garantindo os direitos básicos dos indivíduos, através da Constituição Federal.
A estratégia adotada é a implantação gradual do anarcocapitalismo – através da privatização em massa das empresas estatais, da revogação de leis e de direitos, da dificultada fiscalização da atuação governamental, e de outras formas de desacreditar o Estado de bem-estar social.
Não resta dúvida quanto à criatividade capitalista: exemplos clássicos são o milagre brasileiro, o caçador de marajás, a era FHC, a submissão da política aos interesses meramente econômicos, e, por fim, temos a nova política das fake news.
Ação entre amigos
Ao ver a sua popularidade despencar, o mandatário de Brasília não se incomoda em entregar a cabeça de antigos aliados, em comprometer a parte boa das Forças Armadas, e se afastar, ainda mais, das promessas de campanha.
Após dar continuidade à criminosa reforma trabalhista, que provocou a perda de milhões de postos de trabalho e a precarização dos ainda existentes, veio a reforma da Previdência Social, que acaba com o sonho da aposentadoria, isso, sem falar em outras medidas que ressuscitaram a fome e a miséria em nosso país. Ficar na fila do açougue para pegar um pedaço de osso para “alimentar” a família e morrer por falta de vacina agora é “normal”?.
Algumas instituições entendem que um órgão específico para tratar das relações trabalhistas e das políticas voltadas ao emprego e à Previdência Social é um avanço. Mas, será que este governo insensível e autoritário, tem boas intenções com a classe trabalhadora?
Quem golpeou terrivelmente a luta através do desmonte sindical, retirou direitos e conquistas, dificultou a aposentadoria e transformou o Ministério do Trabalho em uma secretaria, dificilmente se arrependeria na fase final do mandato.
Ao se render ao “centrão” em troca de blindagem política para si e sua família, o capitão presidente recria o referido Ministério para acomodar amigos políticos e abrir espaço para o anteriormente criticado “centrão”.
Onde está a preocupação com a classe trabalhadora, com o povo e com o país? Onde está a nova política?
Quem não se lembra da musiquinha cantada por um general: “se gritar pega ‘centrão’, não fica um…”.