Existe um ditado que diz: “somos livres para fazermos nossas escolhas, mas
somos prisioneiros das suas consequências”. O significado tem a ver com as
nossas responsabilidades, com os limites das nossas ações, com a sabedoria
de viver em uma sociedade coletiva, preservando a nossa individualidade e
respeitando a individualidade dos nossos semelhantes.
Todas as pessoas, em vários momentos das suas vidas, tomam decisões.
Certas ou erradas, espontâneas ou por causa de algum tipo de pressão, seja
ela familiar, social, profissional, econômica etc. A tomada de decisões é uma
das características do homem, que, ao contrário dos animais, é dotado do livre
arbítrio, da razão e do conhecimento para auxiliar em suas escolhas.
Falando em conhecimento, as redes sociais, as escolas e a internet são
espaços de construção de conhecimento e de divulgação de informações –
que, infelizmente, nem sempre são bem utilizadas ou já foram compartilhadas
para criar confusão, insegurança e despertar sentimentos e emoções que não
são compatíveis, muito menos benéficos, para que uma sociedade valorize a
liberdade, em todas as suas dimensões, a solidariedade, os valores éticos e
morais e os direitos individuais e coletivos.
Você já parou para pensar em quanta informação tóxica e inútil circula nas
redes sociais, bem como informações que aparentam ser inofensivas e
estimuladoras da reflexão – mas, que na verdade, objetivam criar um senso
comum, que limite o ato de pensar em uma ação superficial, que direciona e
molda comportamento social conforme os interesses, momentâneos ou não de
uma classe que se alojou no poder?
Na esteira da evolução das tecnologias da informação, mas sem qualquer
compromisso com a utilidade positiva dos dados veiculados, milhões de
pessoas e de terabytes navegam na chamada deep web, um espaço por onde
circulam informações ligadas à violência, a preconceitos, a teorias
conspiratórias, bizarrices etc. Não há que se proibir a livre informação, mas,
sim, responsabilizar aqueles que fazem mal uso destas informações.
No caso do Brasil, as eleições de 2018 abriram a Caixa de Pandora das
mentiras, das agressões e dos ataques orquestrados contra quem pensa, age,
ou simplesmente é diferente de quem dá ou manda dar o “Enter” e o “Enviar”. A
prática de compartilhar informações, sem antes conferir a sua veracidade e a
sua utilidade, tornou-se um vírus que contamina não os computadores, mas
sim as mentes das pessoas. É fácil agredir e difamar, quando se imagina estar
seguro e impune atrás de um teclado.
Nos últimos quatro anos, quase todos os dias são divulgas notícias sobre a
atuação do chamado gabinete do ódio, instalado dentro do Palácio do Governo.
Apesar de nomes citados, IPs mapeados, pessoas e instituições covardemente
atacadas, nada se fez de forma determinada a acabar com criminosa prática.
CPI, investigação, discursos em plenário, acusações, nada disso cumpre
efetivamente o seu papel de não cessarem, ou pelo menos diminuírem, as
inconsequentes veiculações.
A eleição de 2022 foi marcada pela continuidade dessa prática e trouxe um
novo elemento à tona. Agora, o uso das redes sociais em maior escala é feito
não só por extremistas conservadores e por religiosos contaminados por um
fanatismo que desmascara falsos líderes espirituais e afasta os seguidores da
palavra divina, mas também por aqueles que se sentiram ofendidos ou que
discordam das opiniões e informações compartilhadas.
É perigosa a naturalização da onda de agressões gratuitas e criminosas,
muitas vezes, entendidas como malevolência e senso de humor do brasileiro.
Definitivamente, fazer piada com racismo, discriminação de gênero, social,
intelectual e econômica não é nada divertido, é simplesmente possibilitar a
aceitação definitiva da volta aos tempos do faroeste, onde cada um fazia sua
própria justiça, segundo os seus valores e os seus interesses.
É preciso que as pessoas desenvolvam, com urgência, o hábito de serem mais
críticas com as informações, antes de compartilhá-las. Não faça das redes
sociais uma arma, pois a vítima pode ser você. Democracia e informação, sim!
Mentiras e agressões, não!
Mesmo nas redes sociais e na “segurança virtual do teclado”, existe a lei da
ação e reação.
Quem com like fere, com like será ferido.