O sindicalismo e o debate sobre a justiça econômica

Nos dois últimos meses, têm crescido os ataques da direita contra a política econômica defendida pelo Governo Lula. Esta reação, baseada em críticas e não no diálogo, é típica da elite que se beneficia das altas taxas de juros (leia-se do sistema financeiro), pois o Brasil possui a segunda maior taxa de juros do mundo (o Banco Central acaba de manter a Selic em 10,5%, ao ano).

É esta taxa de juros que corrige a dívida pública interna do país: ou seja, todo o dinheiro que o governo deve aos bancos privados serão corrigidos por ela. Assim, quanto maior for a taxa de juros, mais os bancos ganham; a mesma lógica serve para os empréstimos pessoais e para as empresas que querem investir em seus negócios. Trocando em miúdos, uma taxa de juros alta endivida ainda mais o governo, impedindo que as pessoas financiem um carro, reformem sua casa, compre algum eletrodoméstico, e, ainda, cria enormes dificuldades para que as empresas nacionais – principalmente as pequenas e médias – invistam em novas tecnologias e tornem-se mais competitivas, o que é essencial para o crescimento econômico do país.

Todos nós lembramos das reações contrárias à reforma tributária, a resistência à cobrança de impostos sobre as grandes fortunas e sobre o dinheiro enviado para paraísos fiscais. A verdade é que o pobre, o trabalhador assalariado, o aposentado, o informal, que não possuem grandes fortunas, não têm dinheiro em paraísos fiscais.

A realidade é que a elite conservadora, que há muito tempo se enriquece às custas da exploração do trabalho, pressiona a classe política para diminuir o poder do Estado intervir na economia, para flexibilizar a legislação trabalhista e para obter benefícios públicos e não engole nenhum governo que se proponha a combater as desigualdades sociais através da distribuição mais justa da riqueza produzida no país. Os mais ricos ficam arrepiados só de ouvir falar sobre Justiça Econômica, pois eles acreditam que os pobres não devem ser beneficiados por políticas públicas inclusivas e que cada um recebe aquilo que merece. Puro preconceito elitista.

O maior desafio que se coloca para o Movimento Sindical é o de conscientizar toda a classe trabalhadora, que é muito maior do que o universo de sindicalizados e de trabalhadores com carteira assinada, sobre a importância de a sociedade lutar por mudanças na economia nacional. Está mais do que provado que o mercado livre e desregulado não conseguiu reduzir as desigualdades sociais. Foram as limitadas iniciativas governamentais que diminuíram a pobreza e a fome, mas uma sociedade mais justa precisa de políticas de Estado — e não de políticas de governo.

Todos os trabalhadores e trabalhadoras foram prejudicados com a reforma trabalhista e da previdência, pois não foram gerados os milhões de empregos prometidos, os salários não cresceram o suficiente para fazer frente às necessidades dos mais pobres e a aposentadoria ficou ainda mais distante. Se tivéssemos mais políticos comprometidos com a classe trabalhadora, certamente não estaríamos nesta situação de precarização do trabalho.

Mais uma eleição se aproxima e muitas entidades sindicais terão candidatos próprios, e, com certeza, apoiarão outros candidatos, de diversos partidos. Precisamos ter a clareza de que as eleições municipais deste ano serão decisivas para que a mudança democrática resultante da eleição do Presidente Lula, ocorra também em cada cidade do país. A população precisa entender que, votar só porque o candidato é amigo ou conhecido, é da mesma igreja, ou foi indicado por alguém, não é suficiente para darmos o devido valor ao seus votos.

Em 2018, muita gente caiu no canto da sereia das redes sociais, deu risada com os memes, acreditou nas falsas promessas de candidatos que se diziam ser contrários ao sistema. O resultado foi um desmonte do Estado, corrupção ainda maior, aumento dos discursos de ódio, do preconceito e da violência. Nunca vimos tanta baixaria na política e precisamos dar um basta. Será que o Movimento Sindical não possui maturidade e força política para mostrar que tem compromisso com o povo e quem só quer o voto dele?

As entidades sindicais devem ter a responsabilidade de apoiar os melhores candidatos, mesmo que eles sejam de outra categoria, de outro sindicato ou de outra central, pois a disputa ideológica entre estas, somente enfraquece, ainda mais, a luta operária, fazendo o jogo daquela elite que acha que os sindicatos fortes e os salários altos são inimigos das empresas. Está na hora de levar o debate político para o campo da Justiça Econômica.

Não adianta só falar que o Brasil voltou: é preciso combater o golpismo e desmascarar a elite econômica e os grandes meios de comunicação que não querem distribuir melhor a riqueza. Quem não lembra do ministro posto Ipiranga e do presidente fujão, que eram contra a empregada doméstica ir para a Disney?

Os sindicatos devem fazer uma reflexão responsável, neutralizar egos e construir pontes entre todas as entidades sindicais e os demais movimentos sociais. Para tanto, é preciso melhorar a comunicação com a sociedade e capacitar melhor os dirigentes sindicais

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