O setor elétrico brasileiro – tendências e desafios para os trabalhadores

Sem a intenção de aprofundar o debate sobre as diferentes visões de trabalhadores e empregadores, privados ou estatais, acerca da essencialidade do fornecimento de energia, é indispensável reafirmarmos o nosso entendimento sobre o setor elétrico.

O ponto de partida do nosso posicionamento é a certeza que a energia elétrica é um direito, e não uma mercadoria; portanto, todos devem ter acesso a este bem.

A partir desta constatação, surge o caráter essencial da categoria eletricitária, que, assim como a energia, é estratégica para o desenvolvimento do país. 

Quando pensamos sobre os desafios propostos para o setor, é possível identificar alguns pontos comuns entre a visão de trabalhadores e empregadores, atuantes na geração, na transmissão e na distribuição de energia elétrica.

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Entretanto, estes pontos se distanciam, quando a lógica acumuladora do capital se sobrepõe aos interesses da classe operária, desconsiderando as reais necessidades dos cidadãos, dos consumidores individuais, do segmento da indústria e da prestação de serviços.

A categoria eletricitária atua no sentido de também garantir um fornecimento de energia elétrica contínuo, eficiente e de qualidade. Este compromisso é ainda mais claro, a partir da necessidade do país investir na indústria farmacêutica, de insumos e produtos hospitalares, que são essenciais ao bom funcionamento dos centros de saúde espalhados pelo território nacional. Este é o primeiro desafio.

Um segundo desafio para os trabalhadores eletricitários e suas organizações sindicais é o de se organizarem melhor e serem mais proativos e combativos, na busca por alternativas de proteção aos trabalhadores, seriamente ameaçados pelos problemas de liquidez das empresas do setor, potencializados pela queda da demanda e pela obrigação de pagar contratos firmados. A primeira despesa a ser citada para corte é aquela com os recursos humanos (leia-se: demissões, redução de treinamentos, retirada de direitos econômicos e de benefícios diversos).

É importante frisar que a luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho também ocorre na esfera política, mesmo que boa parte da classe operária demonstre certa dose de aversão à política partidária.

Portanto, é estratégica a conscientização dos trabalhadores sobre a importância que a política tem em suas vidas, tanto no âmbito pessoal, como no âmbito profissional. As recentes reformas (trabalhista e da Previdência), são decisões nefastas, que já impactam negativamente a vida de milhões de pessoas e não cumprem as promessas de gerar empregos e alavancar a economia nacional.

A incorporação de novas formas de relação de trabalho no setor elétrico é mais um desafio que se apresenta à categoria eletricitária; o regime de trabalho por demanda (uberização), não assegura uma renda mínima aos prestadores de serviço e provoca uma atomização da categoria, o que interessa diretamente aos patrões, pois categoria desmobilizada significa menor gasto com acordos coletivos de trabalho.

Ainda existe a real ameaça de profundas alterações na jornada de trabalho, pois, para ganhar mais, os Eletricitários ficarão mais tempo conectados em algum aplicativo, aguardando a chamada, comprometendo seu descanso, seu convívio social, seu desenvolvimento profissional e também a sua saúde.

O desenvolvimento de novos modelos de negócios, como por exemplo, a geração distribuída, o compartilhamento de redes, as conexões inteligentes (ponto a ponto) entre clientes e prestadores de serviços, dentre outros, demandará um novo perfil do Eletricitário, o que implica em sindicatos criativos e preparados para negociar a manutenção do nível de emprego, considerando a atualização continuada dos conhecimentos dos seus representados.

As sequelas da pandemia da Covid-19 são praticamente desconhecidas pelas empresas, sindicatos, trabalhadores e médicos do trabalho. Limitações diversas, como perda de memória e dificuldade de concentração, podem custar a vida de milhares de trabalhadores Eletricitários e ainda comprometer o fornecimento de energia; novos protocolos de segurança, operação e manutenção do sistema elétrico, provavelmente deverão ser revistos.

A categoria eletricitária precisa retomar, com todo o vigor e compromisso coletivo, a luta pela saúde e segurança.

Em um mundo cada vez mais globalizado, a interação entre empresas de diferentes nacionalidades no setor elétrico mundial é cada vez mais rápida e intensa; a troca de informações e a complementariedade das suas atividades são praticadas sempre que necessário, visando a redução de custos e o aumento da lucratividade.

As entidades sindicais precisam fortalecer suas redes internacionais, desenvolver estratégias de atuação sobre toda a cadeia de valor do setor elétrico, serem mais solidárias e estabelecer padrões mínimos e comuns, quando possível, nos acordos e convenções coletivas de trabalho.

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