É interessante como algumas pessoas, ao longo de suas vidas, criam definições, emitem opiniões ou criam frases de efeito que se perpetuam ao longo do temp. Um dos maiores exemplos é José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, que afirmava em seus programas que tinha vindo para confundir, não para explicar.
Uma parcela significativa da mídia parece que segue a cartilha deste comunicador nato, mas, em vez de colocar um sorriso no rosto das pessoas, muitos jornalistas (?) dedicam seu tempo a criar dúvidas e plantar sentimentos inúteis e perigosos nos corações da parcela mais ingênua (ou retrógada) da sociedade.
A constatação inquestionável é que, apesar da quantidade de informações circuladas nas redes sociais e na mídia em geral, as pessoas têm certa dificuldade em separar a informação verdadeira e útil da mentira ou da meia verdade, permitindo assim, que o tão valorizado compromisso com a verdade seja engolido por interesses econômicos e financeiros, que estimulam o sensacionalismo e a irresponsabilidade militante de parte dos profissionais da comunicação, sendo que a veiculação de notícias falsas ou distorcidas é mais comum entre as pessoas que se identificam mais com os “valores” da extrema direita.
Quais seriam os motivos e as causas do paradoxo? — termo que podemos definir simplesmente como uma afirmação, opinião, contexto ou situação que traz em seu bojo uma contradição e carece de uma lógica.
Por que vivemos em uma era de “lacração” generalizada nas redes sociais, e em muitos segmentos da mídia em geral? Quem se beneficia com essa torre de Babel de dados e informações? Certamente, não é o povo. Quanto maior for a desinformação do indivíduo, mais facilmente sua mente poderá ser manipulada e seu comportamento direcionado.
O mundo vive uma crise generalizada e multifacetada. Generalizada, porque atinge a esmagadora maioria dos países, que se encontra assolada por manifestações de descontentamentos, pelo crescimento das desigualdades sociais, dos sentimentos xenofóbicos e preconceituosos, maquiados por falas nacionalistas e conservadoras. É uma crise que possui diversas causas: as mudanças climáticas, a injusta concentração de renda, a precarização do trabalho, o desrespeito aos direitos humanos, os ataques às minorias representativas e o fracasso do sistema capitalista nos esforços para melhorar, de forma definitiva, a vida das pessoas.
Este redemoinho de dúvidas, de indignação e até mesmo de frustração de grande parte da população, é fruto de uma perversa estrutura social planejada, construída e defendida por pessoas e instituições extremamente ligadas e interessadas na manutenção do poder nas mãos de uma elite minoritária, que conta com os dedicados (des) serviços da mídia, para construir, de forma sutilmente manipulada, o consentimento das pessoas comuns. No fim das contas, vivemos um jogo (que na maioria das vezes é sujo), de disputas pelo poder de influenciar as pessoas, de pressionar os governos, de explorar o trabalhador, de definir o que consumir, o que pensar, o que fazer etc.
Segundo o intelectual, jurista e economista alemão Max Weber, considerado como um dos fundadores da Sociologia, podemos definir o poder como “uma relação social entre dois ou mais atores sociais, em que um deles está em condições de alterar os comportamentos dos outros, independentemente da vontade destes”. Para Weber, são as ideias e os valores que potencializam e contribuem para que ocorram mudanças sociais, sendo que os indivíduos possuem liberdade para agir e modificar a sua realidade.
Como citado anteriormente, a mídia exerce um forte poder sobre a construção da sociedade e sobre a definição e padronização do comportamento social. Considerando que a comunicação está cooptada por interesses e conceitos neoliberais, fica mais fácil compreender porque somos bombardeados por informações inúteis ou divulgadas para dificultar — ou mesmo impedir — que as pessoas façam uma análise crítica da realidade na qual estão inseridas e até aprisionadas. É comum que, muitos dos discursos sobre liberdade e mudanças, escondam a intenção de manutenção das estruturas sociais de dominação e discriminação.
Não por acaso, a expressão “quarto poder” é usada para definir a capacidade dos jornalistas e dos meios de comunicação de influenciar o comportamento social. A sociedade foi induzida a endeusar o mercado, a aceitar pacificamente a falta de emprego de qualidade, acatar o descaso com a saúde e com a educação, a naturalizar a violência e o preconceito, e, o que é mais grave, a abrir mão do exercício pleno da cidadania e de ter e defender seus direitos.
É preciso refletir sobre qual o tipo de sociedade que queremos para nós e para as gerações futuras — mas, para isso, primeiro é preciso libertar-se das correntes da desinformação e da manipulação de dados e informações espalhados por alguns jornalistas e meios de comunicação que não têm compromisso algum em informar o povo.