“Essa homenagem não poderia ocorrer em um momento mais oportuno. Estamos em meio a debates urgentes sobre o futuro da educação. Em todo o mundo, comunidades acadêmicas e de pesquisa estão enfrentando desafios à sua liberdade que nunca pensaram que teriam que defender. Tudo o que Freire falou e suas ideias sobre viver, amar, tentar saber, ser tolerante e ser curioso, são recursos que nos permitem enfrentar esses desafios”. Susan Robertson, chefe da Faculdade de Educação da Universidade Cambridge.
“O ENEM começa a ter a cara do governo”. Jair Bolsonaro
Estas duas frases acima retratam, de forma bem clara, duas visões completamente diferentes sobre a importância da educação para a vida das pessoas.
A primeira reconhece o protagonismo da educação como fator de emancipação das pessoas, quando elas alinham suas experiências de vida com o aprendizado, possibilitando o desenvolvimento da capacidade de realizar um análise crítica sobre a realidade ao seu redor, e, a partir de então, protagonizaram as mudanças, de forma livre e emancipadora.
Já a segunda frase, demonstra que um governo autoritário não suporta que as pessoas desenvolvam sua capacidade de pensar e tenham suas próprias opiniões, livres da tutela ideológica e preconceituosa que se apresenta, sorrateiramente disfarçada de conservadorismo.
A educação como forma de dominação
A educação democrática também passa pela preservação de valores e da cultura de uma sociedade, sem perder de vista as mudanças das relações sociais e a necessidade de que esta educação evolua, de forma contínua, em direção de uma sociedade justa e inclusiva.
Quando a educação é criminosamente usada, com propósito de privilegiar os valores (?) e os interesses de uma elite instalada no poder, exatamente o que ocorre com a educação no Brasil atualmente, a Democracia se torna uma pedra no sapato dos radicais de direita, autointitulados conservadores.
Não podemos aceitar que seja negado o direito e nem as condições mínimas, para que qualquer indivíduo desenvolva sua capacidade intelectual; não dá para serem impostas “uma verdade e uma vontade” que não são as suas. O educador democrático coloca-se lado a lado com seus “alunos”, para, juntos, compartilharem e fortalecerem o significado do saber coletivo, democraticamente construído.
Um povo sem educação é um povo escravo, carente de liberdade e capacidade de pensar, tornando-o refém daqueles que usam a educação como forma de alienação e de dominação.
O ENEM do Bolsonaro não reconhece Paulo Freire
Recentemente, ocorreu uma demissão em massa no INEP (Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão vinculado ao Ministério da Educação. O preocupante é que estas demissões foram pedidas por servidores de carreira, por discordarem das ações em curso neste instituto, responsável pelos exames nacionais e pelas avaliações da educação no Brasil.
Estes servidores relatam que, a mando do diretor do instituto, foram retiradas mais de 20 questões da primeira versão da prova do ENEM. É curioso e preocupante o fato de que estas questões faziam referência a contextos sociopolíticos e socioeconômicos, que afetam, diretamente, as vidas das pessoas. Qual o interesse de não dar informações corretas, verdadeiras e atuais, para estimular o livre pensar dos participantes do ENEM?
A Democracia admite que convivam diferentes ideias e opiniões – mas, acima de tudo, privilegia o respeito aos direitos de todas e todos, e não é compatível com autoritarismo de qualquer espécie, ainda mais na área da educação.
Enquanto as ideias de Paulo Freire são reconhecidas e utilizadas em diversos países, é o autor e pensador brasileiro mais citado no mundo, aqui, em Terra Brasilis, o ministro da educação afirma que universidade não é para todos, a autonomia acadêmica é atacada e chega-se ao cúmulo de um policial federal estar presente no ambiente em que são elaboradas as provas do ENEM. Tudo isso, sem contar a redução do orçamento para a educação.
Realmente, o governo do capitão cloroquina está deixando o ENEM com a sua cara e ainda quer deixar o povo com a sua limitação intelectual, impondo uma educação doutrinadora, excludente e retrógada, que tem por objetivo proibir o povo de pensar.
Realmente, o ENEM do Bolsonaro não sabe quem é Paulo Freire.