O Cidadão e os jacarés

Este texto não tem nenhuma relação com a zoologia (ciência que estuda os animais), mas sim, visa chamar atenção para a necessidade de refletirmos, de forma mais crítica e rotineira, sobre nosso papel na sociedade – inclusive, participando ativamente das decisões que afetam nossas vidas: tanto no plano individual, como no plano coletivo.

Atualmente, vivemos um momento de grande polarização no país, ao mesmo tempo em que uma significativa parcela da população deixou de valorizar e até mesmo acreditar na política. É bom lembrar que, quanto menos participamos na política, mais espaço damos para que outras pessoas decidam em nosso nome. Terceirizar responsabilidades, direitos e deveres somente enfraquece a cidadania.

A cidadania deve ser compreendida como um processo contínuo de construção coletiva de uma sociedade mais justa e solidária, que concorra para a realização dos diretos humanos, de forma a dotar a sociedade de regras claras e democráticas, que estimulem e coloquem o bem comum em primeiro lugar. Portanto, a cidadania pressupõe direitos e deveres, que devem ser observados por todo cidadão responsável.

Dentre os direitos do cidadão, podemos citar o direito à saúde, à educação, à moradia, ao trabalho e à previdência social. Quanto aos deveres, destacamos o cumprimento das leis, educar e proteger seus semelhantes, a natureza e o patrimônio público e social. Infelizmente, o Brasil está se afastando, cada vez mais, do respeito aos direitos humanos e da observação das leis, colocando em risco a liberdade individual e a coletiva.

Normalmente, os governos populistas usam uma retórica que soa bem aos ouvidos do povo, mas deixam a desejar em termos de avanços sociais sustentáveis. Auxílios emergenciais são passageiros, mas a fome aparece todos os dias; quase sempre, as carreatas atropelam a dignidade humana, em vez de promovê-la.

Não podemos falar em cidadania e nem em gestão pública séria, quando mais de 490 mil vidas foram perdidas para a COVID-19; quando um vírus teve o seu potencial de contaminação aumentado pelo descaso das esferas federais, estaduais e municipais; quando medidas não tomadas, decisões erradas, desinformação premeditada e os interesses políticos mesquinhos colocam em xeque as nossas vidas. O Estado está ausente, e, muitas vezes, atua erroneamente.

Covid-19, coronavirus, 3D virus render on background.

Hoje, o governo federal bate no peito e diz que já aplicou mais de 40 milhões de doses de vacinas: mas, não podemos esquecer de que o governo federal nunca apostou na vacinação em massa. Nenhuma pessoa vacinada virou jacaré, mas, com certeza, milhares morreram pela falta da vacina.

O governo federal não tem capacidade e nem interesse de assumir seu papel no combate à pandemia. Em vez disso, cria narrativas fantasiosas, ignora a Ciência e mente na CPI descaradamente – mas não deixa de promover aglomerações irresponsáveis, através do capitão presidente (como foi a caso “motociata” no Rio de Janeiro, que, segundo o amigo do presidente e organizador do evento, o “jacaré”, a reunião era como um churrasco com os amigos). O direito de não acreditar no vírus não dá direito de contaminar outras pessoas. Onde está a responsabilidade cidadã?

Outro sinal claro de falência do Estado como provedor de direitos e garantias dos cidadãos é a matança ocorrida no Jacarezinho. A ausência e o descaso do Estado com as pessoas que mais dependem dele é um convite para que o crime organizado crie um estado paralelo nas comunidades Brasil a fora.

Mais do que decretar sigilo do processo de apuração de responsabilidades, é preciso evitar que jovens sejam aliciados pelas facções criminosas (leia-se traficantes, milicianos e corruptos).

É preciso que o povo esteja unido e determinado a mudar este cenário. Não podemos abrir mão da nossa cidadania, sob o risco de sermos engolidos pelos jacarés do autoritarismo, do negacionismo e da omissão estatal.

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