A história da economia brasileira é marcada, quase que totalmente, pela ausência ou deficiência no planejamento de políticas públicas que transformem em realidade o “país do futuro”. Some-se a esse triste quadro, a resistência da elite econômica do país à ideia essencial de construir políticas que distribuam a riqueza de forma mais justa.
Um dos exemplos históricos da dificuldade de mudar o modelo de desenvolvimento econômico ficou conhecido como a política do café com leite, onde a oligarquia mineira, basicamente constituída por produtores de leite, e a oligarquia paulista, que aglutinava os produtores de café, criaram enormes dificuldades para que um programa de industrialização nacional e de diversificação da produção brasileira fosse implantado com sucesso.
À época (primeira metade do século XX), o Brasil era um país cuja economia dependia quase que exclusivamente do extrativismo de recursos e riquezas naturais, que eram exportados sem nenhum valor agregado. Esta é a principal razão para que o agronegócio ocupe, também nos dias atuais, um papel de destaque na política e na economia nacional. É preciso compreendermos que, no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi promulgada a lei Kandir, que concedia isenções fiscais aos exportadores de produtos semiprocessados, outra medida que relegou a iniciativa de adoção de uma política de industrialização forte e promotora da indústria nacional.
No governo do capitão fujão, chorão e inelegível, o agronegócio foi ainda mais beneficiado, com medidas totalmente contrárias aos interesses nacionais, além do desmanche dos órgãos de fiscalização ambiental, legalização da mineração predatória e vistas grossas à exportação ilegal de madeiras. Essas foram algumas das “realizações” do governo bolsonarista.
Esta mesma direita que, através do centrão e dos políticos de extrema-direita, apropriou-se da execução do orçamento nacional e pressionou o Poder Executivo para que nada mude nesse país. Também em termos econômicos, prega a manutenção de um modelo concentrador de renda e não vê a industrialização do país com bons olhos, preferindo o conforto das exportações alavancadas com o dinheiro público.
Por outro lado, as correntes políticas alinhadas com o ideário progressista, ainda não se deram conta que não basta simplesmente destacar e defender a importância da industrialização brasileira; é preciso discutir que tipo de industrialização é melhor para o Brasil, bem como as responsabilidades de cada segmento da sociedade brasileira.
O mundo globalizado em que vivemos, demonstra que a economia mundial não tem conseguido eliminar as desigualdades sociais ao redor do globo terrestre, o que nos obriga a parar e refletir sobre os objetivos da economia mundial. As mudanças sociais, tecnológicas, políticas e econômicas são tão rápidas e intensas, que não permitem que os governos simplesmente reproduzam políticas econômicas que deram certo no passado. A realidade é outra e os problemas atuais não serão solucionados com fórmulas passadas.
Neste sentido, destaca-se o alerta do professor Marcio Pochmann, que é incisivo em afirmar que o Brasil não disputa e nem discute o futuro, que o país não tem um projeto para o futuro, muito menos um plano econômico. É preciso que os governos, assim como as visões de esquerda e de direita, parem de basear suas propostas na gestão de emergências e nos interesses do mercado financeiro, que prioriza a especulação, em detrimento do investimento produtivo gerador de empregos, de competitividade e melhoria da qualidade de vida da população. A lógica especulativa do sistema financeiro não é a lógica do país e ainda trava a industrialização.
Modernidade, indústria forte, emprego de qualidade, produtos e serviços competitivos e salários justos não podem ser tratados como utopias, e, muito menos, justificar demandas por mais recursos públicos sem a devida contrapartida da iniciativa privada.
A sociedade precisa debater sobre os reais potenciais da economia nacional, quanto e como investir em setores estratégicos como educação e capacitação tecnológica, polos de desenvolvimento e compartilhamento de tecnologias, específicos por segmentos econômicos, financiamento público regrado, transparente e assertivo, além da distribuição justa da riqueza produzida.
Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA e do Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo – STIEESP
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