Sindicatos

O discurso e a prática de algumas empresas do setor elétrico

O segmento empresarial costuma adotar alguns bordões para melhorar sua imagem junto à sociedade. Entre eles, podemos citar: “os trabalhadores são o nosso maior patrimônio”; “nós somos uma empresa socialmente responsável”; “tempo é dinheiro”, dentre outros. Infelizmente, essas peças publicitárias não refletem as reais práticas adotadas por algumas empresas do setor elétrico.

Ainda está bem vivo, na memória de milhões de consumidores que dependem da empresa italiana Enel, o caos de vários dias sem energia elétrica em São Paulo. O Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, representado pelo presidente Chicão, participou de audiências públicas, compareceu às CPIs na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal, e ainda deu inúmeras entrevistas, denunciando a falta de compromisso de várias empresas qua atuam no setor elétrico, além de apontar inúmeras falhas na regulamentação do setor, que, via de regra, penalizam os consumidores e os trabalhadores, visando assegurar os lucros das empresas.

Infelizmente, mesmo tendo sido duramente criticada pela sua ganância e pelo descaso com a sociedade, parece que a Enel não possui limites para encobrir suas falhas, limitações e atitudes, que contradizem os seus “princípios” organizacionais. O mais recente caso de falta de responsabilidade e de compromisso social está relacionado com a denúncia feita pelo Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, que ficou conhecida como Intervalo Térmico.
Imagine os eletricistas da Enel, que já são poucos para atender com qualidade os consumidores, e muitas vezes ainda têm que acompanhar os trabalhos das empresas terceirizadas, trabalhando em câmaras subterrâneas em temperaturas que chegam aos 70 graus – com luvas, botas, capacete, em um ambiente apertado, pouco ventilado e com a empresa pressionando para ser mais rápido. Os riscos à saúde e à vida destes valorosos trabalhadores são imensos.

Este tipo de trabalho é tão prejudicial à saúde, que existem leis para proteger o trabalhador, como por exemplo, a realização de um intervalo de descanso a cada 45 minutos trabalhados nestas condições precárias. Porém, a empresa não se preocupa com isso: ela apenas quer o trabalho realizado no menor tempo possível e com o menor custo.

O Sindicato, além de defender os interesses da categoria, tem consciência de que a energia elétrica é um direito da sociedade, algo essencial para a vida e para a economia do país. A partir deste compromisso com a vida e com a qualidade dos serviços prestados, o Sindicato acionou a Enel na Justiça do Trabalho.

Imediatamente, a Justiça do Trabalho determinou que fossem realizadas perícias em algumas câmaras subterrâneas apontadas pela entidade sindical; é curioso como o uso errado de um cachimbo entorta a boca, da mesma forma que uma empresa se dedica a acobertar falhas para não ser multada por práticas erradas.

Ao ser notificada do dia e da hora em que seriam realizadas as perícias, a Enel começou uma operação de jogar a sujeira para baixo do tapete. Ela destacou equipes de profissionais para que durante a noite anterior à visita do perito, ventilassem e resfriassem as galerias, inclusive desligando circuitos elétricos. Assim, a perícia não encontraria nenhuma irregularidade.

A estratégia não deu certo, pois um diretor do Sindicato compareceu ao local, conversou com os trabalhadores e filmou todas as atividades que estavam sendo realizadas a mando da empresa. Assim que o perito chegou ao local, este diretor apontou as irregularidades comprovadas com fotos e filmagens.

É certo que toda empresa tem de lucrar, mas não podemos admitir que este lucro seja obtido com a exposição de trabalhadores a riscos desnecessários, que não tenham seus direitos respeitados, que a sociedade não seja corretamente atendida e informada dos fatos com responsabilidade. Inúmeras empresas estrangeiras, que atuam no milionário setor elétrico nacional, dificultam, ao máximo, a ação sindical; qualquer melhoria no serviço prestado que gere custo, tem de ser aprovada pelo país onde está a empresa mãe.

Algumas empresas que atuam em São Paulo e alegam não ter total autonomia para gerir o negócio, dependendo de diretrizes e autorizações de fora, são: Enel, Elektro, ISA Cteep e EDP São Paulo.

No caso específico da Enel, é injustificável que, após o indecente apagão técnico, ainda tenhamos de conviver com um apagão ético da empresa, tudo para atender à pressão dos acionistas para aumentar o lucro.

Essa é mais uma constatação do descaso reinante no setor elétrico, que somente é levado ao conhecimento da sociedade através da ação firme de um Sindicato forte e responsável.

Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA e do Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo – STIEESP

Site – www.eletricitarios.org.br
Facebook – www.facebook.com/eduardo.chicao
Instagram – www.instagram.com/chicaooficialsp/

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