“Não a toa Paulo Freire além de classificar o ensino tradicional como conservador e avesso à mudanças, colocava as claras a finalidade de dominação de uma elite que enxergava o povo esclarecido e com autonomia como uma ameaça aos “valores” que definiam o comportamento social da época; a referida obra de Paulo Freire data dos anos de 1970.”
Em uma democracia existe espaço para ideias diferentes, sejam elas conservadoras ou revolucionárias (no sentido de proporem mudanças), também é de se esperar que os defensores de cada uma das ideias valorizem o diálogo e, se abstenham de agredir os seus adversários quando não possuem argumentos válidos para de forma civilizada confrontá-los.
Em pleno ano de 2024, com tantas mudanças em curso na nossa sociedade, inúmeras comunidades que ganham mais espaço no dia a dia, novos comportamentos sociais, é inadmissível que uma candidata, inexpressiva, diga-se de passagem, afirme que caso eleita para governar a cidade de São Paulo, jamais permitiria usar o método Paulo Freire nas escolas municipais.
Esta é uma clara demonstração de desinformação da referida candidata, pois apesar de o método Paulo Freire de alfabetização ser mundialmente reconhecido e valorizado, ele não é praticado nas escolas de nossa cidade.
Além disso, o discurso da direita radical, que se coloca como conservadora, apenas por covardia de assumir seu radicalismo e angariar votos da parcela conservadora da sociedade, que insiste em associar o referido método educacional ao comunismo reforça o baixo nível intelectual deste segmento político oportunista e despreparado.
A ideia de uma escola mais democrática, que valorize o diálogo construtivo entre professor e aluno, que os coloque em um mesmo nível de importância educacional para que a partir de experiências ambos cresçam como seres humanos, ao invés da tradicional “imposição” de conhecimento por parte do professor, perpetuando o aluno como mero receptor de informações e conceitos, já existia antes de Paulo Freire brindar o mundo com a obra Pedagogia do Oprimido.
John Dewey, filósofo norte americano contemporâneo da Revolução Industrial e da construção da democracia norte americana, já defendia uma escola mais democrática, que levasse em conta as enormes mudanças em curso; iniciando um movimento que ficou conhecido como Escola Nova.
Algumas décadas depois, Paulo Freire reforça a necessidade de mudanças na forma de ensinar nas escolas, para que os altos índices de analfabetismo do Brasil fossem debelados. É lícito afirmar que apesar dos diferentes contextos sociais, políticos e econômicos em que viveram os dois autores vários pontos comuns podem ser identificados em suas obras.
Ambos autores acreditavam que as escolas deveriam valorizar ao máximo as experiências de cada ator envolvido, para construir um conhecimento que fosse útil para além dos muros das escola e servisse para resolver problemas da vida; o segredo era ampliar a capacidade de raciocínio e o espírito crítico do aluno.
Não a toa Paulo Freire além de classificar o ensino tradicional como conservador e avesso à mudanças, colocava as claras a finalidade de dominação de uma elite que enxergava o povo esclarecido e com autonomia como uma ameaça aos “valores” que definiam o comportamento social da época; a referida obra de Paulo Freire data dos anos de 1970.
A direita radical e burra que existe no Brasil, que não podemos confundir com a ala conservadora, usa de forma recorrente o expediente de atacar pessoas e ideias que sejam diferentes da sua forma de “enxergar” o mundo, daí a frequência de ataques às pessoas que desagua em um “debate” de baixíssimo nível moral, ético e intelectual. Quem sabe debate, que não sabe ataca.
Para aqueles que acham que Paulo Freire é comunista fica a frase de John Dewey, filosofo e liberal norte americano escrita em 1959:
Uma democracia é mais do que uma forma de governo é, principalmente, uma forma de vida associada, de experiência conjunta e mutuamente comunicada.
Antes de atacar Paulo Freire os radicais deviam ler sua obra, que até pode ser criticada de forma consequente, desde que o objetivo seja o de contribuir para uma educação mais democrática, que é fundamental para que tornemos nossa sociedade mais justa e igualitária.
Ler e entender Paulo Freire talvez seja impossível para a direita ignorante, que não quer que o povo pense de forma crítica sobre a realidade em que vive e atue de forma direta e coletiva para transformá-la.