Um dos maiores desafios do movimento sindical é o de resgatar o seu protagonismo enquanto movimento social, abrangente e capaz de exercer a pressão social necessária ao combate das desigualdades sociais, especialmente aquelas provocadas pela precarização do trabalho. Porém, este resgate pressupõe uma adequação das estratégias sindicais, para fazer frente a uma nova e perversa realidade que se abateu sobre o mundo do trabalho, patrocinada pela lógica capitalista de frear a queda da taxa de lucro das empresas.
A união de trabalhadores e trabalhadoras em torno de uma entidade que, a partir da definição de objetivos coletivamente estabelecidos, não é um movimento que surgiu por acaso. A origem desta mobilização remonta aos tempos da Revolução Industrial, em meados do século XVII, principalmente na Inglaterra, onde a adoção das máquinas e uma nova forma de organizar a produção, iniciou um processo de exploração da mão de obra por aqueles que eram os donos dos meios de produção.
Para se ter uma ideia, nos séculos XVIII e XIX, as jornadas de trabalho eram de 16 horas (sem intervalos) e deveriam ser cumpridas por homens, mulheres, jovens e idosos. Um dado curioso e revoltante é que, a limpeza das chaminés das fábricas e residências, era feita por crianças com menos de oito anos de idade, pois os seu corpos pequenos e franzinos, facilitando a descida pelas chaminés e os movimentos para limpá-las.
Naquela época, as condições de trabalho eram as piores possíveis e os salários não chegavam para alimentar de forma decente uma família. Daí, o surgimento de uma classe social chamada proletariado, que se fortaleceu, principalmente através dos sindicatos, na defesa de melhores condições de trabalho e salário. Esse fortalecimento da classe trabalhadora passou a ser combatido pela elite econômica, que sentiu-se ameaçada na busca de maiores lucros – pois, para eles, quanto maiores os salários e os gastos com os ambientes de trabalho, menores seriam suas possibilidades de lucrar mais e mais.
Ao longo do século XX, o movimento sindical cresceu e foi muito respeitado por boa parte da sociedade, mas também foi muito atacado e criticado pelo capitalismo, pois o discurso da divisão mais justa da riqueza produzida jamais foi aceito pelos gananciosos, que se enriquecem explorando o trabalho alheio. No entanto, o sistema capitalista não perde tempo em criar novas condições de trabalho, tecnologias e leis que eternizem o acúmulo de riqueza e, por consequência, coloquem a classe operária a serviço do patronato. Não à toa, dificilmente, uma família deixa de ser pobre em menos de nove gerações.
Atualmente, o mundo do trabalho passa por uma nova onda de mudanças altamente prejudiciais aos trabalhadores. Prejuízo esse que é potencializado pela redução da proteção social: a aposentadoria ficou mais difícil, os salários minguaram e os benefícios estão sendo cortados, o que leva a uma inversão entre trabalhar para viver e viver para trabalhar.
A precarização sequestrou a dignidade do operariado, alienando as mentes dos jovens que conseguem ingressar no mercado de trabalho formal. A comunicação empresarial e os grandes meios de comunicação, estes últimos dependentes e servientes à financeirização imposta pelos bancos, em detrimento da produção industrial, hoje vale mais investir em papéis do que em máquinas e gerar empregos, possuem um alto poder de apagar a história das conquistas sindicais ao longo dos tempos.
Carteira de trabalho, férias, décimo terceiro salário, horas extras, vale-alimentação e vale-refeição são alguns direitos conquistados pelo movimento sindical, às custas de muita luta, prisões e até mortes. Se dependesse da maioria das empresas, esses direitos não existiriam, e as migalhas jogadas aos trabalhadores seriam um ato de bondade dos patrões.
Infelizmente, é comum que a maioria dos trabalhadores jovens não saibam a verdade sobre os benefícios que eles recebem, e que poderiam ser ainda melhores, se eles participassem efetivamente da luta sindical e não se deixassem ser cooptados pela empresa e ameaçados com o desemprego.
Também não podemos negar que muitas entidades não se prepararam para esta nova realidade do mundo do trabalho. É preciso usar, de forma mais eficiente, as redes sociais, ter uma comunicação mais ágil, uma linguagem mais acessível aos jovens, sem perder a essência da conscientização política e da solidariedade entre os trabalhadores e trabalhadoras.
É preciso repetir, diariamente e de forma bem clara, que foi a luta sindical que trouxe regulação da jornada de trabalho, saúde e segurança e inúmeros benefícios: não foi iniciativa dos patrões.
Nada foi dado, tudo foi conquistado!
Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA e do Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo – STIEESP
Vice-presidente da Força Sindical
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