Se o capitalismo selvagem não for domado, a sociedade de zumbis sairá dos filmes e ganhará as ruas. Apesar do aumento da fome, do desemprego e da violência, a grande mídia e os grandes grupos empresariais insistem em enganar o povo, dizendo que está tudo sob controle.
É incrível a capacidade que o capitalismo tem de alienar a mente das pessoas, atacar seus críticos e se adaptar às suas próprias crises, cada vez mais frequentes e agudas. Para que isso aconteça, três coisas são necessárias: criatividade, cara de pau e insensibilidade.
Até quando as pessoas ficarão sem entender que, quanto menos elas pensarem sobre a realidade social na qual estão inseridas, mais elas continuarão reféns de uma elite predadora de valores morais, éticos e solidários, que não se importa com a vida miserável de milhões de seres humanos e apenas quer continuar vivendo sua vida, cheia de dinheiro, de ostentação, de bens materiais e vazia de respeito pela vida, sua e dos outros?
É essa elite, dona dos meios de produção e de comunicação, que manda na política nacional, cooptando políticos e influenciadores para “fazer a cabeça” do povo a aceitar, passivamente, que sua vida seja guiada pelos interesses elitistas.
A MP 1108, medida provisória que “regulamenta” o teletrabalho e endurece as regras do auxílio alimentação, é mais uma prova da capacidade das mentes capitalistas criarem meios de acumular, ainda mais, a riqueza produzida no país, manipulando a opinião pública.
Quem ganha com o teletrabalho?
A pandemia acelerou o processo de implantação da modalidade do teletrabalho, aproveitando a oportunidade de manter as pessoas em casa produzindo e reduzindo as despesas das empresas com benefícios e gastos de água, energia, aluguel de instalações, transporte, limpeza etc. Tudo isso fica por conta daqueles que trabalham em suas casas. Para os patrões, isso é modernidade: e uma forma de exploração consentida.
A primeira crítica sobre o teletrabalho é que a sua implantação muda as relações sociais do mundo do trabalho, tornando-as ainda mais injustas para os trabalhadores. Muitos ainda não se deram conta que, depois de implantada essa nova modalidade, os patrões poderão, a qualquer momento, contratar mão de obra mais barata em outros países.
Teletrabalho e trabalho remoto não são a mesma coisa que home office. Uma coisa é você trabalhar em casa, por determinação da empresa, ou por negociação em acordo coletivo; outra coisa é a empresa te dar tarefas, com um prazo para cumpri-las, de qualquer lugar. Isso não é liberdade, mas sim redução de custos e transferência de responsabilidade das empresas para os trabalhadores.
A segunda jornada das mulheres agora é simultânea
O capital quer que a mulher trabalhe como se não fosse mãe. O Estado, em vez de adotar políticas de assistência social, de educação e de emprego, que possibilitem que as mulheres não precisem optar entre o trabalho e a maternidade, se omite e se torna cúmplice de mais uma agressão às mulheres, com a limitação do acesso a uma boa educação por parte dos filhos. Trabalhar em casa compromete a qualidade da educação infantil, impacta na saúde da mulher e na qualidade dos serviços realizados.
Imagine uma mulher tendo que amamentar, cozinhar e limpar a casa, ao mesmo tempo em que é pressionada pelo patrão para finalizar o trabalho. Em meio a tudo isso, ela ainda é interrompida por e-mails, telefonemas e mensagens. Como é possível digitar, com uma criança pequena no colo, e atender o telefone ao mesmo tempo?
Esses mesmos patrões, que aplaudem a edição dessa “Meleca Provisória”, deveriam cobrar do Estado a oferta de creches, escolas públicas e serviços sociais, capazes de assegurar e melhorar a qualidade de vida das mães e também dos pais que trabalham. Com certeza, teríamos gerações futuras mais bem preparadas e trabalhadores mais tranquilos, para bem executar suas atividades profissionais.
A mulher, que antes saía correndo do trabalho para casa, por causa das tarefas domésticas, agora vai correr o dia todo – equilibrando os filhos, as panelas e o computador em suas mãos; pensando no relatório e no que vai cozinhar para a família, tudo ao mesmo tempo.
Além de tudo isso, o patrão ainda vai cobrar uma produtividade maior, alegando que o conforto do lar permite que se trabalhe mais tranquilamente. No meio de tanta correria, alguma trabalhadora vai se arriscar a não atender o chamado do patrão? E se ela o fizer, como ficará sua avaliação de desempenho? No fim das contas, a chance de ficar estressada, sofrer de burnout e ter crises de ansiedade aumentarão os lucros da indústria farmacêutica e das empresas de saúde privada.
Talvez, os patrões esperem que os filhos se virem para suas mães e digam:
“Mamãe, você quer ajuda?”
Não à MP 1108!