Moïse Kabagambe: lá vem o Brasil, descendo a madeira!

Um dos ícones da música popular brasileira, Moraes Moreira, em um dos seus inúmeros e inesquecíveis sucessos, escreveu que quem desce do morro, não morre no asfalto. Talvez sua inspiração tenha sido provocada pelo jogo de cintura do brasileiro ao enfrentar as dificuldades da vida, pela sua disposição em lutar por uma vida melhor, ou mesmo pelo espírito acolhedor e pacífico do nosso povo.

Acontece que os tempos são outros. Apesar do avanço tecnológico da sociedade, do acesso à informação, da possibilidade de fazer e falar qualquer coisa (desde que não prejudique a ninguém), boa parte do nosso povo está regredindo como ser humano.

Fazer justiça com as próprias mãos, tirar uma vida por discussões banais – ou por mera e hedionda vontade de se apropriar do que não é seu, – atacar pessoas com mentiras e acusações levianas, ignorar aqueles que passam fome, os que moram na rua, os que estão desempregados, os que estão doentes, os discriminados, desrespeitando leis e se comportando como “bestas humanas”, são claros sinais de que nossa sociedade está doente e de que a civilidade parece não importar mais.

Assassinar alguém não tem justificativa

Um jovem sai de seu país para fugir da violência e da miséria. Então, ele escolhe o Brasil para recomeçar sua vida e acaba fazendo bico em um quiosque, à beira-mar, na praia carioca da Barra da Tijuca. O jovem trabalha, não recebe o seu dinheiro e acaba sendo brutalmente assassinado, apenas por cobrar o que é seu, por direito. Trabalhou, tem que receber.

Infelizmente, o congolês Moïse Kabagambe não encontrou a paz, nem muito menos a oportunidade de uma nova vida em terras brasileiras. Ele foi covardemente imobilizado, agredido a pauladas e amarrado, num ato de barbárie que culminou em sua morte.

Qual a posição do ministério dos direitos humanos? Se o jovem fosse branco, “evanbélico” ou apoiador do governo, haveria reação diferente? Por que a guarda municipal, mesmo sendo avisada, não se dirigiu ao local para impedir mais uma barbárie? Qual será o posicionamento da desacreditada Justiça, quando se tratam de crimes contra pobres, negros e excluídos?

O pior é que os três indivíduos detidos e acusados pelo crime não apresentam o menor sentimento de estarem arrependidos de matarem um ser humano. Pior que isso, ainda têm a frieza de falar em “aplicação de corretivo”, de dizer que sua consciência está tranquila, ou que, somente, extravasaram a raiva momentânea. Além disso, já existem rumores de que está em marcha a estratégia de culpar o jovem congolês pela sua morte. Como fica a OAB, caso um profissional do direito defenda seus clientes com mentiras e acusações falsas?

Não existe justificativa para esse assassinato. Estamos de frente com mais um triste fato, que demonstra que violência gera violência; que um Estado ausente contribui para a contagem de corpos; que o discurso de liberdade sem responsabilidade desperta os mais sombrios instintos animalescos e sanguinários na alma de indivíduos egoístas, que se colocam acima de tudo e de todos.

Caso a sociedade não se rebele contra tanta violência, partindo, decididamente, para o resgate da solidariedade e da civilidade, pactuaremos com a paródia Lá vem o Brasil, descendo a madeira.

 

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