A sociedade em que vivemos hoje é bem diferente, em vários aspectos da sociedade de décadas e séculos passados. Novos valores, novas demandas, novas tecnologias e mudanças constantes passaram a fazer parte do nosso dia a dia.
Será que todas essas mudanças são promovidas para melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, ou acabam beneficiando a mesma elite que domina a economia, a política, as finanças e comanda o papel do Estado, determinando o que devemos consumir e quais informações devemos receber?
Muitas das virtudes, tais como honestidade, ética, solidariedade e compromisso, estão sendo substituídas por “likes”, pelo saldo bancário, pela roupa que usamos etc. Isso significa que, as pessoas estão sendo avaliadas não pelo seu caráter, pela sua contribuição e pelo respeito ao próximo, mas sim pelos padrões de consumo e parâmetros materialistas “impostos” por esta mesma elite, que, não por acaso, “manda” no mundo.
Estes “novos valores” também afetam – de forma direta e intensa – as vidas dos trabalhadores. Eles têm que se adaptar a uma nova realidade do mundo do trabalho, que lhes foi imposta, e que, na maioria das vezes, reforça a exploração da mão de obra.
A quem interessa as mudanças?
Vendido como a solução de todos os problemas das pessoas, das empresas, dos governos e como o melhor instrumento para promover o desenvolvimento dos indivíduos, o sistema neoliberal vive a sua maior crise e jamais sofreu tantas críticas.
A desigualdade social, junto com a pobreza, atingiram níveis alarmantes por todos os quadrantes globais. A concentração da riqueza nas mãos de uma expressiva minoria desvia o necessário fluxo de recursos financeiros do investimento produtivo para uma “lógica” de especulação financeira. Com isso, os bancos lucram cada vez mais, as grandes corporações transnacionais ditam regras e ainda apontam direções a serem seguidas pelas demais empresas, como o tipo de conhecimento que deve ser priorizado e as leis que devem ser flexibilizadas, moldando, assim, o melhor mercado para obter o maior lucro.
Além da própria existência da humanidade, também o meio ambiente se encontra extrema e criminalmente ameaçado pela ganância capitalista e pela falsa ideia de que o liberalismo possibilita e estimula a mobilidade social dos mais pobres e excluídos.
A imensa maioria da população mundial vive (ou, pelo menos, tenta viver) a partir da renda gerada pelo seu trabalho. Porém, o sistema neoliberal enxerga os salários como custos a serem reduzidos, os direitos trabalhistas e a proteção social como obstáculos para a melhoria do funcionamento das empresas e do mercado, além de demandarem um Estado improdutivo. Daí, o esforço neoliberal em reformar a previdência, enfraquecer e até acabar com os sindicatos, reduzir garantias da CLT, desmontar a Justiça do Trabalho e cercear a atuação do Ministério Público do Trabalho.
O trabalhador é o culpado?
As mudanças ocorridas no mundo do trabalho, materializadas através da adoção de novas tecnologias, novos processos de trabalho e novas formas de contratação de mão de obra, tiraram o trabalhador da posição de maior protagonista do mundo do trabalho e colocaram-no na condição de mero insumo de produção de bens e serviços. Hoje, para muitas empresas e muitos políticos, cooptados pelo sistema neoliberal, estes trabalhadores são apenas números – e podem ser substituídos a qualquer momento.
A facilitação das demissões passa pela eliminação de multas contratuais, indenizações trabalhistas previstas em lei ou em acordos e convenções trabalhistas: tudo em nome do lucro. Uma das estratégias utilizadas pelas empresas para gastar menos (ou não gastar) com os trabalhadores desligados é forçar o pedido de demissão, ou demiti-los por justa causa.
Todos os dias, milhares de ações empresariais desprovidas de escrúpulos e de visão social, jogam milhares de trabalhadores para o submundo da informalidade, para o purgatório do desemprego e para o inferno da degradação humana.
Os trabalhadores são obrigados a atingirem metas absurdas de produtividade, são assediados moralmente para produzirem mais e mais, e ainda são pressionados a não levantarem sua voz em defesa de seus interesses ou de apoiarem seus sindicatos. Tudo para que não suportem tal pressão e peçam demissão (ou incorram em erros que levem à demissão por justa causa).
Todo trabalhador é um ser humano, e como tal deve ser tratado, mesmo que cometa erros, como qualquer um de nós. Sendo assim, o ideal é que o mundo do trabalho invista, cada vez mais, na eliminação de problemas e causas de erros por parte dos trabalhadores. O ideal é que todos os EPIs e EPCs sejam de boa qualidade, que todos os processos de trabalho privilegiem a segurança individual e coletiva dos trabalhadores e da sociedade em geral, e que, toda mão de obra, seja devida e corretamente qualificada e treinada. Porém, na visão neoliberal, tudo isso é custo e não investimento em profissionais mais bem preparados e em um mundo mais justo e igualitário.
Definitivamente, na maioria das vezes, a culpa não é do trabalhador. A ganância e a insensibilidade do sistema neoliberal são as principais causas de mudanças no mundo do trabalho. A maioria dos patrões não se importa com acidentes que provoquem mortes ou invalidez permanente, pois a fila de desempregados é imensa e os direitos trabalhistas estão sendo eliminados.