As pesquisas apontam que, apesar de diminuir a chance de Lula vencer no
primeiro turno, somente com uma catástrofe – ou um milagre nada religioso da
multiplicação dos votos defendido pela primeira dama (ela sim, a Michele do
cheque do Queiroz), – a esquerda não voltará ao poder, pelo menos na
Presidência da República.
Reparem que, a todo instante, a grande mídia dá destaque a polarização entre
Lula e Bolsonaro. Além de dar ibope, essa postura, que nem sempre é
jornalística, alegra grande parcela da população, que insiste em não dar o
devido valor à participação política efetiva e reflexiva e também exime os
grandes meios de comunicação de se comprometerem em apontar a
lamentável prática apolítica em nosso país. Pior de tudo, deixam um aporta
aberta para negociações com o presidente a ser eleito.
Quais as verdadeiras razões e os interesses dos grandes grupos de
comunicação não esclarecerem à população que, ao somente eleger Lula, sem
que ele tenha maioria no Congresso Nacional, as dificuldades para remover o
Brasil do atual atoleiro serão enormes? Verbas publicitárias? Trânsito livre junto
ao poder? Direcionar e pressionar os futuros parlamentares a votarem pautas
de interesse dos grandes grupos empresariais, que não atuam somente no
segmento da comunicação?
Alguém duvida do poder que está nas mãos de Artur Lira, quando se fala em
orçamento secreto? Todas as votações na Câmara dos Deputados são
pautadas por ele. A mesma situação se repete no Senado, onde as iniciativas
do presidente podem ser referendadas ou rejeitadas… Será que os eleitores
têm consciência de que, presidir um país sem maioria do Congresso Nacional,
significa negociar com todos os partidos para que os projetos sejam
aprovados?
Infelizmente, a grande mídia não faz essa discussão com a seriedade que ela
merece. Negociar faz parte da democracia e da dinâmica da política – mas
negociar com pessoas despreparadas, descompromissadas com o país e com
o seu povo, certamente será uma grande armadilha para a esquerda.
Bastam alguns momentos de reflexão desarmada de ódio, de egoísmo, de
exageros ideológicos e religiosos, para que percebamos a gravidade do
retrocesso democrático que assola o Brasil e vários outros países. Então, qual
a responsabilidade da grande mídia no processo de fortalecimento da
democracia e no combate aos extremismos?
A Rede Globo, tão criticada pela esquerda e pela direita, sempre consegue se
manter em destaque. No Brasil, é o veículo de comunicação que mais direciona
a opinião pública, muitas vezes, em função de seus interesses. Bateu no Lula
ao se sentir ameaçada; agora, faz de conta que critica o presidente em
exercício, mas “passa pano” o tempo todo. Crimes atrás de crimes não são
denunciados; campanha política com dinheiro público e forma das regras legais
ocupa menos espaço no JN do que a dança da primeira ministra da Finlândia…
Qual a análise séria feita sobre a decisão do Ministro Barroso de suspender a
aplicação do piso salarial para os profissionais da enfermagem? A Lei da Ficha
Limpa foi aplicada para Lula, mas não alcançou Artur Lira… Por que não se fala
disso?
O grupo Bandeirantes se posiciona firmemente contra a iniciativa de “líderes”
religiosos fazerem política rasteira em seus templos? Qual o seu real
entendimento sobre liberdade de expressão e liberdade de agressão? Qual foi
a última matéria sobre os detalhes das rachadinhas e dos imóveis comprados
com dinheiro vivo, divulgados por iniciativa do próprio grupo, com uma análise
mais apurada? Qual a receita proveniente da locação de horário para igrejas?
É moral e ético dar espaço midiático para discursos que criam abismos sociais,
por causa de preferências religiosas? Nada contra qualquer religião, mas tudo
contra aqueles que usam a “palavra sagrada” em benefício próprio ou de seus
asseclas ungidos.
Na Democracia, existe espaço para progressistas, conservadores e liberais.
Podem ser emitidas opiniões favoráveis e contrárias aos governos, entretanto
mentir, distorcer fatos e emitir opiniões sobre fake news, é motivo para que os
responsáveis, os profissionais, ou mesmo o grupo de comunicação, sejam
interpelados à luz da lei. O zelo pela honestidade jornalística não pode ser
confundido com censura.
O grupo Jovem Pan tem total liberdade para direcionar sua linha editorial, mas
não tem o direito de desinformar a população – seja de forma premeditada,
com sua explícita postura conservadora, seja pela necessidade de lacração ou
pela ignorância de alguns de seus comunicadores. Discordar e até criticar uma
jornalista de outra emissora é possível, desde que os motivos sejam sérios e
tragam benefícios para a sociedade; no entanto, é abominável tecer
comentários e justificar agressões com vídeos maldosamente editados.
Chamar um candidato de mentiroso não é proibido, apesar de retratar o baixo
nível da política nacional; entretanto, não podemos aceitar que essa agressão
seja desprovida de verdade e demonstre total má fé e burrice de quem emitiu
tal opinião. Pior ainda é ser desmentida no ar por um colega de bancada, e, em
seguida, uma profissional da informação dizer que, infelizmente, o profissional
que defendeu a legalidade do MST, estava correto.
Não menos grave é a mesma emissora permitir que uma funcionária afirme em
rede nacional que Margaret Thatcher é a primeira ministra dos EUA… Santa
ignorância, Batman! Ela é britânica e nos EUA nem existe o referido cargo!
Decididamente, a grande mídia precisa fazer uma autocrítica, melhorar a
qualidade de suas matérias, se aproximar o máximo possível da verdade e
cumprir a missão de informar a população segundo os fatos, e não segundo os
seus interesses.
A frágil democracia brasileira está em perigo e não precisa de programas
jornalísticos tendenciosos ou mal-intencionados. O jornalismo sério e livre é um
dos pilares democráticos – sendo assim, ele deve ser tratado com o devido
respeito.
O voto é livre e secreto… Mas se o seu título de leitor vier com ódio ou com
uma arma de fogo, o tiro pode sair pela culatra, de novo.
CHICÃO DA BANCADA TRABALHISTA 7778.