Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E, agora, não contentes, querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.” Bertold Brecht
A cada dia que passa, fica mais claro que, nos interesses da elite que insiste em se manter no poder, para usufruir de forma irresponsável e infinita das riquezas nacionais, e, principalmente dos recursos públicos, não existe espaço para iniciativas e políticas que possibilitem aos mais necessitados e excluídos viverem com um mínimo de dignidade.
A voz do povo não pode ser abafada por discursos populistas, por ações demagogas e paliativas, que servem apenas migalhas para aqueles que têm fome de liberdade, de direitos respeitados, de educação, de saúde, de trabalho e que sonham com um país melhor e mais justo.
A vez do povo não pode ser preterida pela ganância de acumular, cada vez mais, o lucro e a riqueza produzida no Brasil, que traz em seu bojo a insensibilidade para com a degradação moral e física produzida pela miséria, pela ampliação das desigualdades sociais, e pela exploração do homem pelo seu semelhante. Nós não podemos abrir mão da nossa vez, e, muito menos, deixar que terceiros falem por nós.
Infelizmente, a maioria da população brasileira tem se mantido afastada das discussões políticas. Por isso, paga o preço de ser mera figurante no processo de tomada de decisões, que afeta diretamente a vida de todos. É preciso ter claro que existe a boa política e a má política, e que, quanto mais deixamos de participar, mais prejudicados somos pelos praticantes da má política.
Como diz o ditado popular:
Não é a política que faz o candidato virar ladrão. É o seu voto que faz o ladrão virar político”.
Quais são os verdadeiros interesses que estão por trás das críticas ao mau funcionamento do Estado? Por que, em vez de consertar o que está errado, a referida elite prefere mentir para o povo, afirmando que o mercado é a única saída para melhorar a eficiência da coisa pública?
A crise sanitária, econômica e ética que assola nosso país, deixa claro que, somente na hora que o seu lucro fica ameaçado, o capital lembra que o Estado deve agir – entretanto, quando é para dividir de forma mais justa parte deste lucro com os trabalhadores (ativos, informais, aposentados etc.), o capital exige que o Estado não se intrometa.
Tomemos por exemplo a iniciativa de privatizar a Eletrobras, os Correios, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, sem que sejam realizados debates sérios com a sociedade, para saber o que ela pensa, o que ela precisa e o que ela quer?
Uma das análises mais esclarecedoras dos motivos obscuros da proposta privatista do atual governo foi feita por Eduardo Moreira, do ICL (Instituto Conhecimento Liberta). Em sua análise, o autor destaca a importância de refletirmos sobre todas as motivações governamentais e empresariais da privatização, em uma nova ordenação econômica mundial. Ele destaca alguns fatos que, muitas vezes, deixamos de considerar ou mesmo desconhecemos – como, por exemplo, por que os bancos cobram juros maiores de pequenos e médios empresários do que das grandes empresas?
Se uma pequena empresa não tem capital de giro, ela ficará à mercê das maiores empresas e isto fica claro na relação entre as concessionárias e as empreiteiras que atuam no setor elétrico.
A empresa que não se submeter a estas regras, quebra (ou sobrevive à custa da exploração da mão de obra).
Outro exemplo é que a economia e a vida das pessoas estão cada vez mais dependentes da energia elétrica. Praticamente, não existe nenhuma atividade industrial ou comercial que não utilize e a energia elétrica como insumo básico; falando em comércio, é inegável o rápido crescimento do comércio eletrônico, já que a maioria da população é hipnotizada pelo conforto de receber os mais variados produtos e serviços em sua casa, mesmo que isso implique no nocivo conceito de “uberização”.
Assim, fica claro que a nova economia tem um tripé que a sustenta: o acesso ao financiamento é o primeiro, daí a intenção de privatizar os bancos públicos (como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica), pois, sendo públicos, o lucro é limitado. O segundo pé é a energia elétrica, essencial para os negócios e para os lucros – portanto, é preciso acabar com as tarifas sociais e com a regulação, que já deixa a desejar. Portanto, a presença de empresas estatais – como a Eletrobras – é um fator de limitação à livre atuação do mercado, e, novamente, ao lucro.
O último pé que ajuda a sustentar essa “nova economia” é o serviço de delivery, que, hoje, ainda tem a participação estratégica dos Correios, cobrindo os buracos deixados pela iniciativa privada, que não se interessa por lucros reduzidos.
Resumindo, as empresas privadas que atuam no setor elétrico, querem energia mais barata e maiores lucros; as grandes empresas poderão diminuir a concorrência das pequenas e médias empresas, à medida que estas não tenham acesso a financiamentos com taxas de juros mais baixas, e, por último, por que deixar que uma empresa estatal lucre com a entrega de produtos? Energia para produzir e vender, dinheiro para financiar a indústria e o comércio e estrutura para entregar os produtos.
É sabido que, quando se juntam os adoradores da má política e do livre mercado, os interesses do povo, assim como sua voz e sua vez, não têm importância. Viva o lucro, via o fim do Estado!