Controle da mídia e poder político

Há algumas décadas, inúmeros historiadores e estudiosos escrevem sobre a era da informação e os avanços na comunicação em geral. Da mesma forma que o sistema capitalista cunhou o dogma “tempo é dinheiro”, as elites dominantes entendem e defendem que “informação é poder”.

Não por acaso, as grandes universidades e centros de excelência em inovação tecnológica recebem suporte financeiro de grandes empresas e conglomerados empresariais, o que acaba determinando os caminhos a serem seguidos pela maioria dos cientistas e pesquisadores.

As prioridades, em termos de pesquisa e desenvolvimento, são definidas, em quase sua totalidade, por interesses de acumulação de riqueza e de concentração do poder – seja ele econômico, militar, financeiro ou tecnológico. O maior exemplo está na disputa entre Estados Unidos e China, pela supremacia no domínio da tecnologia 5G.

Neste cenário de intensa disputa pela informação e pelo conhecimento, a educação e o investimento em ciência e tecnologia ganham destaque ainda maior, mas, infelizmente, o Brasil anda na contramão da história. Desgovernado por um grupo de reacionários comprometidos com a destruição das instituições democráticas e a implantação de uma sociedade completamente submissa e alienada, refém da violência e da ignorância, nosso país sofre com cortes orçamentários e com a ausência da autonomia das escolas, e, principalmente, das universidades.

Com o crescimento vertiginoso da internet, as distorções premeditadas de fatos, bem como a criação e a disseminação maléfica de fake news, firmam-se como a estratégia referida dos grupos radicais da extrema direita. A esta onda ultrarradical e reacionária, cabe lembrar que reacionário e conservador são coisas distintas: somamos a lógica das elites tradicionais, que enxergam o controle da mídia como um novo espaço do jogo político.

“Mentiras podem matar!”

Essa é uma frase forte de autoria da jornalista filipina Maria Ressa, que, em conjunto com o jornalista russo Dmitry Muratov, foi recentemente agraciada com o Prêmio Nobel da Paz.

Além de forte, a frase resume, de forma clara e contundente, a necessidade de a sociedade em geral posicionar-se contra o uso da mídia e da mentira como estratégias de continuidade da exploração e da discriminação da maioria, por uma minoria insensível.

O Comitê Norueguês, instituição responsável pela escolha dos vencedores do Prêmio Nobel, reconheceu os esforços dos dois jornalistas para “salvaguardar a liberdade de expressão, que é uma pré-condição para a democracia e uma paz duradoura”. É bom esclarecer que, a liberdade de expressão aqui referida, não é a liberdade de agressão defendida pelos seguidores do mito.

A liberdade de expressão necessária, democrática e positiva, tem a ver com a verdade dos fatos, passando por um fazer jornalístico livre, que não se alinha com o abuso do poder, nem com as mentiras e nem com as propagandas de guerra. Tanto a liberdade de expressão, como a liberdade de informação, são imprescindíveis para garantir que os indivíduos sejam corretamente informados.

A pandemia mostrou que inúmeros pseudolíderes negacionistas promoveram irresponsáveis e mentirosos ataques às vacinas, culminando na morte de milhares de pessoas ao redor do mundo – inclusive, foram realizados estudos neste sentido no Brasil, onde as estimativas de mortes que poderiam ter sido evitadas chega à casa de duzentas mil.

Realmente, a mentira pode matar.

O correto uso da internet

Liberdade de expressão não significa que podemos dizer qualquer coisa que venha à nossa mente, com o objetivo de ofender a terceiros ou criar um fato que não condiz com a realidade. O limite da liberdade de expressão é a verdade e o respeito aos direitos dos demais indivíduos.

As redes sociais ampliaram o acesso à informação de forma exponencial, contribuindo para a democratização do conhecimento. Entretanto, elas também são usadas por instituições e pessoas desprovidas de compromisso com coletivo, de ética e de respeito aos direitos do outro. 

O premeditado e incorreto uso da internet confunde, propositalmente, o ódio e a indignação moral – sendo que o ódio leva à vingança, enquanto a indignação moral tem a ver com a defesa da justiça e com a resolução de problemas da sociedade como um todo (ou de alguns de seus membros). 

O comportamento de parte da classe política nas redes sociais é baseado na divulgação de informações e fatos, nem sempre verdadeiros, com o objetivo de neutralizar possíveis críticas – principalmente daquelas pessoas que não conhecem os políticos ou não acompanham a vida política do país. Este tipo de atitude é um desperdício de tempo e de energia, que poderiam ser direcionados a uma elaboração mais democrática e assertiva das políticas públicas.

O Brasil vive uma guerra política nas redes sociais entre os simpatizantes e militantes da esquerda, da direita e do centro, que inundam as mídias sociais com inverdades e informações distorcidas, que impedem que o povo seja corretamente informado e tentam construir uma realidade paralela, lastreada pela mentira e pelo autoritarismo.

As palavras do historiador italiano Carlo Ginzborg retratam, com clareza, o momento vivido pelo Brasil. Ele afirma que o Google pode ser usado como um “poderoso instrumento de cancelamento da história”.

Mais do que nunca, precisamos defender o uso ético – e socialmente útil – da internet.

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