A terceirização e suas consequências aos trabalhadores

A terceirização de serviços e suas consequências nas relações de trabalho, é um tema que vem sendo cada vez mais discutido no seio da classe trabalhadora e pelos meios de comunicação que representam os trabalhadores.

Na maioria das vezes, é unânime a opinião de que a terceirização provoca a precarização do trabalho.

Claro que não podemos deixar de citar que há exceções quando falamos de precarização do trabalho – por exemplo, quando a terceirização é aplicada a serviços eventuais, que são esporádicos e necessários para a relação do mercado de trabalho com o trabalhador. 

Para Alves (2007), “no Brasil, a experiência da precarização do trabalho é resultado da síndrome objetiva da insegurança de classe (insegurança de emprego, de representação, de contrato), que emerge como numa textura histórica específica – a temporalidade neoliberal. Ela é elemento compositivo do novo metabolismo social que emerge a partir da constituição do Estado neoliberal.

Possui, como base objetiva, a intensificação (e a ampliação) da exploração (e a espoliação) da força de trabalho e o desmonte de coletivos de trabalho e de resistência sindical-corporativa; além, é claro, da fragmentação social nas cidades, em virtude do crescimento exacerbado do desemprego total e à deriva pessoal no tocante as perspectivas de carreira e de trabalho devido à ampliação de um precário mercado de trabalho”.

Portanto, resta o que podemos definir como consequências: a redução da remuneração, das garantias dos trabalhadores em razão de menor vínculo e/ou sem vínculo direto com a empresa para a qual presta seus trabalhos e a redução de benefícios. É claro o exemplo de terceirização com consequentes prejuízos aos trabalhadores, quando uma determinada empresa demite seus trabalhadores e contrata determinada tomadora de serviços para que recontrate a mão de obra, pagando valores menores (não necessariamente salários menores; muitas das vezes, há a redução de direitos ou benefícios, além do fim das garantias de emprego que esses trabalhadores até então possuíam).

As empresas precisam cumprir seus acordos coletivos de trabalho ou as convenções coletivas.

Com o passar dos anos, usam essa ferramenta de proteção do trabalhador, contra o próprio trabalhador, visto que,  para conseguir reduções drásticas em seu caixa e aumentar seus lucros, recorrem à terceirização, com tomadoras de serviços que possuem seus acordos ou convenções até 50% menores do que as aplicadas pelas contratantes atuais, retirando cláusulas importantes de respaldos, tais como jornadas de trabalho (tornando-as maiores) e redução das exigências técnicas, criando, consequentemente, a estagnação da categoria profissional, além da redução de perspectivas do trabalhador e da vontade de crescer profissionalmente, com consequente destaque para o aumento dos riscos de acidente do trabalho.

Destaque em cima do setor elétrico:

Se analisarmos o cenário acima descrito da terceirização como um todo dentro do mercado de trabalho, e o trouxermos para o setor elétrico, encontraremos um panorama tanto ou mais preocupante, tendo em vista que a qualificação do trabalhador precisa ser cada dia mais aprimorada – e não desprezada – como é.

Quando falamos de atuar com risco iminente à vida do trabalhador e da população que os rodeiam, como é o setor elétrico, cabe sim, uma reflexão de quanto vale a vida de cada trabalhador para as tomadoras de serviços.

Cada dia mais, encontramos os trabalhadores com menos perspectivas dentro da organização de trabalho que atuam, mudando seu trabalho por outra oportunidade, apenas em troca de estar alocado mais próximo de sua residência, ou por valor muito próximo da atual empregadora, sem ao menos se preocupar com a qualidade de vida, com a segurança, ou prospectar o futuro para uma aposentadoria. Isso nos remete a crer que o valor do trabalho está se tornando menos significativo ao trabalhador, que estamos nos tornando espécies de “robôs”. 

O simples pagamento por uma determinada produção afasta o desejo de melhorias e de união pela categoria, criando mais e mais fragmentos entre os trabalhadores e fazendo imperar a opinião de singular, sem mais pensar e agir como plural na luta diária.

Vale ressaltar que, com essa mudança de pensamento da classe trabalhadora como macro, deixamos de olhar para o lado e passamos a pensar somente em nós mesmos. Deixamos de nos indignar com o que acontece e de que maneira acontece com os demais setores e trabalhadores.

A terceirização já ocorria há décadas, mas não afetava diretamente as atividades-fim, por isso, nunca havia preocupado os trabalhadores desse segmento.

Hoje, o cenário mudou e o desespero bate à porta. Citaremos alguns exemplos para reflexão e lhe convidamos a pensar sobre o tema: 

  1. Quando os cobradores de ônibus passaram a serem substituídos pela cobrança das passagens automatizadas (ou pelo próprio motorista);
  2. Quando entramos em uma loja de fast food e somos atendidos pelo sistema digital sem atendente;
  3.  Quando nos deparamos com linhas de transporte público sendo operadas por sistema sem operador (a exemplo da Linha Amarela do Metrô de São Paulo)
  4. Quando trocamos o porteiro do prédio pelo sistema de portaria virtual;
  1.  Quando passamos pelo pedágio na cancela de cobrança automática.

Dentre muitos outros exemplos, quantos trabalhadores foram afetados diretamente e indiretamente? Porém, nada disso fez despertar a união de toda a classe trabalhadora – apenas o trabalhador afetado diretamente.

Onde fica nosso sentimento de união dos trabalhadores? Ou quando afeta outros setores, não temos nada com isso? 

Pois bem, dentro do próprio setor elétrico, estamos nos deparando com realidades totalmente fatiadas pela agressiva terceirização, trazendo as precarizações já mencionadas acima, com perdas de benefícios, redução de salários e de segurança dos trabalhadores, além da perda de satisfação da população com a qualidade. Porém, enquanto não for o nosso segmento e não nos sintamos diretamente atingidos, não nos indignaremos.

Vale a pena assistirmos calados ou torcermos para não sermos prejudicados?

Não!

Vale muito se organizar, lutar e avançar por nossos direitos!

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