A política cartesiana de milhões de brasileiros

René Descartes, filósofo francês conhecido como o pai da filosofia moderna, afirmou que a razão é o principal ingrediente da capacidade humana de produzir conhecimento. O princípio estabelecido por ele é de que o indivíduo deveria pensar a partir do simples, para que conseguisse analisar o complexo.

O método desenvolvido por Descartes baseava-se nas propriedades matemáticas, na ordem e na medida das coisas. Na busca de verdades absolutas, o indivíduo deve considerar como falso tudo aquilo que possa gerar alguma dúvida: esta ação, segundo ele, estimularia o pensamento racional.

É fato que o método cartesiano contribuiu muito para o avanço das ciências, ao propor a fragmentação do pensamento e priorizar o entendimento do simples, para, somente depois, iniciar a análise do tema mais complexo. Essa lógica cartesiana ainda é usada nos dias de hoje, mas a realidade atual leva a questionamentos sobre a sua aplicação – principalmente, quando nos deparamos com ciências não-exatas.

Será que, quando olhamos para a trajetória do capitalismo e para o atual modelo de desenvolvimento econômico, nossa visão não fica comprometida por séculos de limitação da nossa capacidade de pensar, de forma sistêmica e holística? Será que, não estamos enxergando somente a árvore, quando deveríamos ver toda a floresta?

Reduzir e simplificar o pensamento político leva à alienação

Já há algum tempo, com exceção daqueles indivíduos que possuem ideologia política definida, seja de esquerda ou de direita, a sociedade brasileira tem sido envolvida e induzida por uma chuva de informações falsas, distorcidas e incompletas, que se prestam, unicamente, a perpetuar uma elite econômica e política no poder.

Para que o povo se sinta incapaz de racionalizar sobre os problemas brasileiros, seja por falta de tempo ou de conhecimento, a estratégia é mantê-lo ocupado em satisfazer suas necessidades mais básicas – não permitindo, assim, que ele abra os olhos, desenvolva seu pensamento crítico e continue submisso aos interesses de quem está no poder, abrindo mão dos seus direitos como cidadão e de lutar por mudanças sociais efetivas, justas e inclusivas.

Não por acaso, vivemos numa sociedade diariamente bombardeada por notícias falsas e não temos acesso às informações devidas ao povo, por aqueles que ocupam cargos públicos – em especial, por aqueles eleitos para legislar. 

Por que será que os dados do Ministério da Saúde não estão disponíveis? Por que ainda há “mentes” conservadoras, que insistem na guerra contra as vacinas e negam a ciência?

Por que será que o Banco Central não é capaz de atender todos os interessados em verificar a existência de dinheiro a receber dos bancos? “Devo e não nego, pago quando eu quiser” – assim como os precatórios.

Porque será que, os dados do site do BNDES deixaram de ser atualizados desde 2019? Recentemente, o excrementíssimo presidente da República e o presidente do banco foram desmentidos.

Por que será que os dados do desmatamento não merecem atenção do governo federal? Não podemos esquecer o interesse em liberar o garimpo nas terras indígenas e da apropriação indevida de terras públicas por membros inescrupulosos do agronegócio. Também não podemos deixar de falar da ação de madeireiros na Amazônia, cujo contrabando de madeira foi descoberto em um porto norte-americano.

Além disso, vivemos num período de redução da qualidade do Congresso Nacional, decorrente da eleição de pessoas despreparadas e sem compromisso com o povo brasileiro, que, mais uma vez, enganaram o povo com promessas e discursos mentirosos. Isso não é racional! Não é isso que queremos, não é disso que o Brasil precisa!

A política vai além do combate à corrupção

É bom recordar que o atual senador Fernando Collor foi eleito presidente com o discurso de “caça aos marajás”. É bom lembrar que os fiscais do Sarney manifestaram-se por uma economia mais justa e distributiva da riqueza nacional.

Em sua campanha, o atual presidente jurou que combateria a corrupção e que acabaria com o “toma lá, dá cá”. Ele atacou violentamente o centrão e a velha política, porém, hoje vivemos com a volta da inflação e da fome; a renda do trabalhador só diminui a cada mês; o PIB não cresce, a precarização do trabalho e as reformas recentemente realizadas no Trabalho e na Previdência condenaram milhões de brasileiros a não realizarem o sonho da aposentadoria.

Enquanto isso, ainda há milhões de brasileiros que se dizem avessos à política. Gritam que todo político é corrupto, fazendo o jogo das elites ao não se envolverem no tema, apesar de serem diretamente afetados por ele.

Provavelmente, neste ano de eleições, haverá mais uma vez o debate democrático e responsável sobre a construção coletiva de um modelo de desenvolvimento econômico, que, realmente, melhore a condição do povo brasileiro, e recoloque o país na trilha do desenvolvimento.

Combater a corrupção não é projeto: é obrigação dos políticos. O capitalismo financeiro está matando a indústria nacional, matando as pessoas de fome e de doenças, ampliando ainda mais as desigualdades sociais. Tudo isso, moldurado pelo que se convencionou a chamar de política neoliberal. Portanto, não continue alienado. Politize-se!

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