A mídia que aliena não é democrática

Autor: STIEESP

23 de julho de 2024

Nunca se falou tanto em liberdade de expressão e nas liberdades individuais, como se tem falado nas últimas décadas. Apesar de a liberdade ser a essência da democracia, não podemos esquecer que, viver em sociedade demanda responsabilidades e compromissos.

Os programas de notícias autointitulados de “jornalismo investigativo” inundam diariamente a sociedade com dados e fatos, nem sempre comprovados, que levam a algum tipo de pré-julgamento ou formação de opinião, que acabam por formatar o pensamento e o comportamento social de milhões de pessoas. Informar é diferente de induzir a pensar da forma mais conveniente.

Normalmente, os grandes veículos de comunicação são movidos por duas forças: o dinheiro e o poder, sendo que elas estão umbilicalmente ligadas. Assim, quem tem dinheiro, detém uma grande parcela de poder, e quem tem poder, tem mais facilidade para ganhar dinheiro. Para que essas forças se complementem, potencializem os lucros e atendam aos anseios de seus donos, é preciso que a população não abra totalmente os olhos e perceba que está sendo sutilmente dopada e anestesiada por notícias, análises políticas, sociais e econômicas, que são elaboradas a partir dos interesses da elite econômica em conluio com a elite política.

Recentemente, em um programa do maior grupo de comunicação do país, foi exibida um reportagem sobre as possibilidades de sucesso para pessoas que se dedicaram a abrir seu próprio negócio, lembrando que as mudanças ocorridas no mundo do trabalho no tópico “formas de contratação de mão de obra”, apesar de soarem como grande motivação e forma mais rápida para o acúmulo de autonomia profissional e riqueza, somente beneficiam as grandes corporações, que visam sempre a redução de seus custos – principalmente, com o pagamento de salários e benefícios.

Não é aceitável que um grupo de comunicação fale em defesa da democracia e da liberdade, enquanto num programa, afirma que determinado indivíduo (hoje um empresário bem-sucedido) já trabalhou com a carteira assinada.

Está claro o posicionamento ideológico desta empresa, que induz o seu público a entender que uma carteira assinada não traz felicidade e nem prosperidade a um trabalhador ou trabalhadora. Trata-se de uma defesa explícita dos novos conceitos de contratação de mão de obra, que, no fim das contas, normaliza a precarização do trabalho e acentua a exploração capitalista.

O capital muda constantemente sua forma de atuar, mas jamais muda seu objetivo maior, que é o de acumular a maior riqueza possível nas mãos de um pequeno grupo de pessoas e corporações. Aquele capital que investia pesado na produção maciça de bens perdeu espaço para o capital especulativo patrocinado pelo sistema financeiro e para o capital explorador dos recursos naturais, iniciativas estas que são amparadas por avanços tecnológicos, que, apesar dos discursos de compromisso social, quase nada produzem em termos de redução das desigualdades sociais e do combate às crises climáticas.

Compromisso com a verdade, jornalismo investigativo, analistas e jornalistas isentos e especializados são alguns dos termos utilizados pelos veículos de notificação para vender sua imagem, e, com isso, atrair mais público e anunciantes.

A questão central é que a notícia e a informação deixaram de ter o caráter educativo e se distanciaram do exercício da cidadania, sendo manipuladas, com raríssimas exceções, por grupos comprometidos com os interesses privados, que, dentre eles, está a aceitação passiva, por parte da população, dos dogmas capitalistas.

Realmente, uma mídia que aliena, em vez de informar, não contribui com o fortalecimento da democracia, e, muito menos, das liberdades individuais.

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