Existe uma máxima que diz que uma radicalização não precisa de fatos ou de
verdades: basta uma crença para ela se materializar. Infelizmente, o Brasil está
retrocedendo em termos de valores morais, éticos, de direitos e de liberdades,
sejam elas individuais ou coletivas, graças ao crescimento do ódio e do
preconceito, embalado por membros de um governo claramente autoritário,
despreparado e desumano. O pior que, boa parte da sociedade civil, tem
adotado essa mesma prática criminosa.
Qual o futuro de um país em que uma advogada, que estudou Direito e jurou
defender o Direito, não põe em prática nada do que aprendeu (ou que, pelo
menos, lhe tentaram ensinar)? Para piorar esse quadro, a referida pessoa é
vice-presidente da Comissão da Mulher da OAB de Uberlândia (MG). Ela não
pratica aquilo que diz defender, ignorando os direitos dos indivíduos, num claro
retrato da intolerância e do preconceito, que afloram com o discurso
bolsonarista.
Não se trata de criticar valores mais conservadores e a liberdade das pessoas
escolherem partidos, candidatos, políticas e até mesmo um tipo de sociedade
mais solidária ou discriminadora, o grau de liberdade de um povo depende do
seu nível de informação (verdadeira e útil), da sua consciência de viver em
sociedade, da sua participação política e da sua formação moral, dentre outras.
A referida advogada simplesmente postou um vídeo nas redes sociais, com a
intenção de informar (desinformar) e lacrar, destilando todo o seu preconceito
contra a população que vive no nordeste, por causa da votação expressiva no
candidato Lula.
Ao instigar as pessoas a não viajarem mais para o nordeste, ela incorre no
crime de xenofobia regional, mostrando o seu total alinhamento com a
desprezível afirmação do estúpido senhor que ocupa a presidência da
república, que disse que Lula só teve mais voto no Nordeste, porque o
nordestino é analfabeto.
Onde está a Justiça Eleitoral, onde está o Supremo Tribunal Federal? Onde
estão os grandes veículos de comunicação, que não iniciam uma cruzada
cívica e jurídica contra o preconceito?
Não podemos aceitar que, de forma proposital e criminosa, grupos autoritários
e seus asseclas criem, nas cabeças das pessoas, o entendimento de que a
liberdade individual permite que cada um de nós faça o que bem entender, sem
que haja punição ou cobrança de responsabilidades pelo que falamos e pelo
que fazemos.
Como e não fosse possível a coisa ficar pior, a seção da OAB de Uberlândia
ainda solta uma nota oficial, dizendo que é uma entidade plural e não se
posiciona sobre posições individuais. Porém, o motivo da existência da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) é organizar e fortalecer os profissionais do
Direito, e não se omitir diante de atentados contra o direito e a liberdade,
cometidos justamente por quem jurou defendê-los.
Se você não é nordestino, provavelmente conhece muitos nordestinos, pode ter
parentes nordestinos. Aliás, quem não gosta de alguma comida nordestina?
Quem não conhece (ou gostaria de conhecer) a beleza, a hospitalidade, a
cultura e a alegria dos nordestinos?
Como fica o discurso bolsonarista sobre a Pátria? O Nordeste é tão brasileiro
quanto o sul, o sudeste, o norte, o centro-oeste.
Senhora advogada, os nordestinos não vivem de migalhas. São as pessoas
que pensam como a senhora, que impedem que o povo do nordeste tenha as
mesmas oportunidades dos brasileiros que vivem em regiões mais
desenvolvidas, como a região em que a senhora vive.
Em vez de aparecer em redes sociais de copo na mão, vomitando bobagens e
preconceitos, melhor seria usar este espaço para defender o direito à saúde, à
educação, ao trabalho, a liberdade de imprensa, o combate ao preconceito,
alguns direitos e a liberdade, que a senhora jurou defender.
Todos somos iguais perante as leis e temos os mesmos direitos: é disso que
fala a Justiça. A sua liberdade de expressão não está acima de nenhum
brasileiro, especialmente do nordestino.
Respeite para ser respeitada. Curve-se aos direitos e liberdades dos
nordestinos e de qualquer brasileiro. A senhora não está acima da lei.