A Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente é um exemplo claro de que é possível e necessário fazer um sindicalismo que privilegie os pontos comuns, em vez de invocar as opiniões diferentes para justificar, quase sempre de forma velada, o afastamento de entidades sindicais, que, ao criarem inúmeros sindicatos dentro de uma mesma categoria, acabam favorecendo o divisionismo, que favorece os patrões e não privilegia a recuperação do protagonismo político e social do movimento operário – e, muito menos, impede a crescente precarização do trabalho.
A FENATEMA demonstra na prática que, diferentes e essenciais categorias, filiadas a diferentes centrais sindicais ou mesmo independentes, conseguem dialogar em busca de ações e posicionamentos comuns, que defendam os interesses dos trabalhadores de diferentes setores e empresas, como também traduz o compromisso maior de lutar pela melhoria da qualidade de vida de todos os atores sociais, em especial aqueles mais explorados e excluídos por uma lógica neoliberal, perversa e exploradora.
Vivemos numa era em que a enganadora mensagem neoliberal das liberdades individuais é uma das prioridades do sistema capitalista e ganhou um imenso espaço nas mentes, no comportamento e no discurso das pessoas. Que liberdades são essas, que não contribuem para diminuir as desigualdades sociais, a fome, o trabalho precário, a preservação do meio ambiente, a quantidade pessoas sem acesso à água potável e ao esgotamento sanitário?
Os líderes Chicão e Faggian, de forma muito clara, consciente e estratégica, sempre destacam a importância de a FENATEMA se esforçar cada vez mais para ampliar o poder de pressão política da entidade por meio da capacitação da entidade em desenvolver trabalhos, estudos e relatórios mais técnicos, que, sem dúvidas, embasarão ainda mais as posições políticas da Federação.
Num futuro não muito distante, serão conhecidos os interesses e verdadeiros motivos que causaram a crise energética mundial, agravada pelo estúpido confronto entre a Ucrânia e a Rússia. A crescente preocupação de inúmeros países com uma transição energética limpa não pode ser capturada pela opinião de oligarquias e nem de corporações transnacionais, que interferem, de forma direta e irresponsável, em instituições multilaterais e governos nacionais. O movimento sindical tem a obrigação de se colocar de forma contundente, a favor da transição energética justa, que atue diretamente na qualidade de vida das pessoas, no respeito aos direitos dos trabalhadores e na preservação ambiental.
Muito se fala sobre o hidrogênio verde como a maior aposta para o fornecimento de energia limpa, dada sua capacidade de emitir baixíssimo teor de gás carbônico. Esse tipo de hidrogênio – o elemento mais encontrado em nosso planeta – é classificado como verde pois, para a sua obtenção, devem ser utilizados insumos (como a água e a energia), sendo a última produzida a partir de fontes renováveis: como a hidrelétrica, a solar e a eólica.
O hidrogênio verde é obtido a partir a separação das moléculas de hidrogênio das moléculas de oxigênio que compõem a água (H₂O). Para fazer essa separação, utiliza-se a energia elétrica, em um processo conhecido por eletrólise. Como é fácil perceber, a preservação ambiental, a geração de energia limpa e o correto uso da água são itens prioritários da agenda da FENATEMA – lógico que, a partir da mobilização da classe trabalhadora na defesa de seus interesses, mas também, a partir do compromisso em construir uma alternativa a uma globalização concentradora de riqueza, devastadora do meio ambiente e precarizadora do trabalho.
No dia 30 de janeiro, durante o encontro do chanceler alemão com o governo Lula, a Ministra da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento da Alemanha, Svenja Schulze, afirmou que o Brasil tem a oportunidade de se transformar num dos maiores fornecedores de energia limpa do planeta. No mesmo dia, foi anunciado que a Alemanha destinará R$1,1 bilhão para ações socioambientais, para ampliação da cooperação tecnológica entre os dois países, para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, para o fomento do uso de energias renováveis, para a recuperação de áreas desmatadas com apoio de pequenos agricultores e também para o Fundo Garantidor de Eficiência Energética para Pequenas e Médias Empresas.
Como vimos acima, a energia limpa é uma vantagem comparativa que se oferece ao Brasil, que, certamente, pode impactar a geração de emprego e renda, a preservação ambiental, a reindustrialização Brasil e acelerar a recuperação econômica. A palavra “pode” não é aqui usada por acaso: se a sociedade não se mobilizar, se o movimento sindical não unificar esforços e concentrá-los em bandeiras que sejam sensíveis para toda a população, o governo federal será pressionado somente pelos empresários, como aconteceu na reforma trabalhista e na reforma da previdência.
É preciso uma força de pressão política muito maior, que, além de colocar o povo nas ruas, também demonstre, com dados técnicos, que outra globalização menos desumana é possível.