Não há como negar que o governo federal e seus apoiadores, escolhidos a dedo e verbas pelo capitão presidente, possuem uma compulsão pela mentira, pelo jogo de palavras e por uma cínica capacidade de negar a realidade dos fatos.
A mais recente manifestação de um membro do clube de sanguessugas do dinheiro público foi a fala do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Ao sair em defesa do ex-ministro da Educação, ele afirmou que “a corrupção no governo Bolsonaro é virtual”, que nada foi pago, e, portanto, nenhum recurso foi indevidamente usado.
Será que as incontáveis visitas dos dois pastores aos redutos bolsonaristas nas dependências oficiais de Brasília também são virtuais? Será que o depoimento do ex-ministro da educação, no qual afirmou que estava atendendo uma solicitação do presidente da República para privilegiar os indicados pelos pastores em questão, também é virtual?
Será que as bíblias impressas com a foto do ex-ministro foram fruto de uma ordem virtual? Será que os depoimentos de vários prefeitos denunciando a cobrança de propinas em ouro e em dinheiro também são virtuais? Será que o fogo no qual o presidente colocaria sua cara pelo ex-ministro também é virtual?
Conheceis a verdade e ela vos encarcerará
Não é por acaso que os mais de 150 pedidos oficiais de impeachment do presidente continuam parados na mesa do engavetador geral da República, assim como não avançam os processos contra os rebentos do capitão presidente. Essa é mais uma forma de esconder a continuidade das más praticas públicas e dos vícios da classe política nacional.
Ainda falando das responsabilidades do ministério da educação, têm nada de virtual as inúmeras entrevistas dadas por políticos apoiadores do governo federal sobre a autorização dada pelo presidente, para que sejam construídas mais duas mil escolas no país. Ocorre que, ainda existem três mil e quinhentas escolas, cujas obras ainda estão em andamento – isso sem contar que é ilegal direcionar recursos públicos para novas obras, enquanto ainda existirem outras paradas.
Além do exposto acima, não existe, no orçamento do FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação), verba suficiente para finalizar as obras em andamento, muito menos para iniciar as outras duas mil escolas. O FNDE tem R$ 114 milhões para o ano de 2022, e, para construir as escolas anunciadas, seriam necessários R$ 5,9 bilhões, e, para finalizar as três mil e quinhentas obras em andamento, o custo estimado é de mais R $1,7 bilhão. Ou seja, a conta não fecha.
Apesar de todas essas questões em aberto, alguns apoiadores, beneficiados por essa iniciativa, apressaram-se em dar entrevistas e divulgar valores conseguidos junto ao ministério da educação. Só que, uma coisa é o compromisso político, outra coisa é ter dinheiro para cumprir esse compromisso. A título de informação, em Goiás foi divulgada a liberação de R$ 7 milhões – entretanto, somente R$ 30 mil estão previstos para esse fim. Situações parecidas ocorreram nos estados do Paraná e do Tocantins.
A desastrada manifestação do ministro da Casa Civil é facilmente desmascarada por recentes denúncias de má utilização de recursos públicos pela CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), que, coincidentemente, está sob o comando do grupo do centrão, liderado pelo ministro Ciro Nogueira.
Em matéria divulgada por um jornal paulista de grande circulação, surgiram informações sobre irregularidades apontadas por uma auditoria independente no balanço da CODEVASF, que não conseguiu comprovar o valor de diversas obras realizadas. Seriam obras virtuais, seria uma auditoria virtual?
A suspeita de uso indevido dos recursos públicos não para por aí, a Controladoria Geral da União apontou que ouve sobre preço de R$3,3 milhões na aquisição de dez máquinas pela CODEVASF com recursos oriundos das emendas de relator no ano de 2021.
Em outra matéria do mesmo jornal, surge a informação de que o governo afrouxou o controle sobre obras de pavimentação feitas pela CODEVASF, para acomodar o volume crescente de recursos oriundos das emendas parlamentares, realizando, inclusive, licitações com dados fictícios.
Segundo o jornal, uma empresa diretamente envolvida nesse esquema fraudulento, é a empreiteira Engefort, do Maranhão, que, em 2021, foi a maior beneficiada com os repasses da CODEVASF. A matéria afirma que foram analisadas 99 licitações via pregão eletrônico, modalidade que deixa em segundo plano o planejamento e a qualidade dos serviços a serem executados. Curiosamente, a construtora mencionada venceu 53 dessas licitações.
No estado de Minas Gerais, que possui mais de 200 empresas habilitadas para realizar serviços de pavimentação, a Engefort ganhou 28 das 42 licitações realizadas, sendo que, em algumas licitações, participou a construtora Del Ltda, que não apresentou a documentação exigida e foi desclassificada. Para espanto geral, essa empresa está registrada em nome de um dos irmãos dos sócios da Engefort.
Será que todos estes fatos são virtuais? Decididamente, a corrupção no governo Bolsonaro não é virtual. Os prejuízos sociais e financeiros são muito reais.
Virtuais eram as promessas de combate à corrupção e ao “toma lá, dá cá” da velha política.
Conheceis a verdade e ela vos libertará (povo), e encarcerará os maus políticos.